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10 julho | agosto | setembro 2015 UMA FRASE “Quando acaba a bateria, eu surto. O celular e a internet podem suprir a carência, é como ter amigos virtuais e amigos presenciais” Luiza Sobral, 20, entrevistada pelo Datafolha, em pesquisa que descreve como pensa e como age a geração dos nativos digitais brasileiros (pessoas entre 16 e 24 anos). há algum tempo fala-se muito em “jornalismocidadão”comosignificado da contribuição de pessoas comuns, não jornalistas, para reportar fatos e notícias. Esse pode ser um caminho para ademocratizaçãodo jornalismo. Mas outra rota é a de veículos jorna- lísticos que engajam seu público em projetos comuns. Aqui, três exem- plos dos Estados Unidos, premiados peloPewCenter of Civic Journalism. The Herald-Dispatch O Estado de West Virginia ingres- sou no século 21 com um problema social e econômico de grandes pro- porções: a extração de carvão, tra- dicionalmente sua maior atividade econômica, estava seriamente ame- açada devido a novas leis ambien- tais e à saturação das reservas. O jornal The Herald-Dispatch , da cidade de Huntington, e a emissora pública de TV local descobriramque US$ 18 milhões que deveriam ser destinados à prospecção de alter- nativas econômicas para o Estado não estavam sendo usados com esse fim. Por meio de novas reportagens e reuniões comcidadãos de dezenas de cidades, foram capazes de rever- ter a situação ao longo de 14 anos, forçando as autoridades a usar o dinheiro com o propósito original. The Herald A cidade de Everett, no Estado de Washington, se defrontava fazia anos com o que fazer com sua decadente zona portuária. O jornal local, The Herald, tomou para si a missão de tentar resolver o assunto. Incentivou urbanistas a apresentarem projetos, convocou uma assembleia de cida- dãos para discuti-los, publicou em suas edições impressa e digital deta- lhes de cada projeto, instigou discus- sões a respeito epromoveuuma vota- ção. A prefeitura acatou muitas das recomendações do jornal e seus lei- tores, e o projeto, já concretizado, é tido comomodelo de decisão pública com participação comunitária. The Cincinnati Enquirer Apartir damorte de um jovemnegro desarmado por um policial branco na cidade de Cincinnati, no Estado de Ohio, o jornal local, The Cincin- nati Enquirer , promoveu 145 reu- niões em todos os bairros e subúr- bios, para discutir temas referentes a relações raciais na comunidade. Dessa iniciativa, dezenas de entida- des foram criadas, a polícia muni- cipal participou dos debates e aca- tou inúmeras sugestões vindas dos encontros. ■ não foi só no brasil que o escân- dalo da Fifa provocou discussões e efeitos sobre como o jornalismo cobre (e deveria cobrir) a indústria do futebol, como se vê no conjunto principal de textos desta edição. Os editoresdoúnico jornal das Ilhas Cayman, o Cayman Compass , tiveram de deixar o país e se refugiar na Fló- rida, depois que o primeiro-ministro Alden McLaughlin se enfureceu com um editorial sobre o assunto. O editorial fazia alusão a um dos suspeitos presos em Zurique, o diri- genteda Confederationof North, Cen- tral American and Caribbean Asso- ciation Football (Concacaf) Jeffrey Webb, pessoa poderosa emCayman. O premiê, amigo de Webb, con- siderou o editorial “irresponsável” e “um ataque traiçoeiro ao país e a seus habitantes”. Os editores David e Vicki Legge, americanos que compraram o jor- nal em 2013 após terem trabalhado ali por décadas, passaram a receber ameaças demorte e resolverambus- car segurança em Fort Lauderdale. Além de atacar o jornal, o premiê tambémproibiuqualquer anúnciodo governo no Cayman Compass , o que pode inviabilizar a sobrevivência do veículo. Emprotesto, o jornal saiucom suacapaembrancoeamanchete “Em memóriada liberdadede imprensa”. ■ Três exemplos de engajamento da audiência Caso Fifa ameaça jornal Jornalismo cívico Ilhas Cayman

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