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12 julho | agosto | setembro 2015 direto de columbia por david klatell adenúnciadecorrupção desenfreada nos altos escalões da Federação Inter- nacional de Futebol (Fifa), que expôs uma teia de suborno, compra de votos, troca de favores e ingerência política e financeira na seleção de sedes daCopa doMundo, é só omais recente de uma sériede escândalos que vêmsacudindo o meio esportivo internacional. Muito antes de Joseph Blatter e comparsas terem sido enquadrados pela Justiça nos Estados Unidos, na Suíça e numpunhado de outros países – por desmandos que meiomundo há muito farejava –, problemas parecidos já eram evidentes no ciclismo (Lance Armstrong foi só o pior e omais óbvio dos trapaceiros), no Comitê Olímpico Internacional (COI) enas federaçõesde futebol daEuropa, daÁfrica e daAmé- rica do Sul. No sul da Ásia, há anos se sabe que o críquete é um esporte cor- rupto, no qual saber antecipadamente o resultado de partidas é umproblema corriqueiro. Boxe, atletismo e corridas de cavalos há décadas são igualmente notórios por esse tipo de coisa. Muitos dos piores problemas e dos piores malfeitores – Armstrong era o vilão perfeito, mas o quarterback do time de futebol americano New England Patriots, TomBrady, é outro bomexemplo – estavamocultos à vista de todos. Apesar disso, poucos jor- nalistas esportivos foram atrás des- ses casos com suficiente inteligên- cia e capacidade de apuração; coube a advogados, juízes e umpunhado de autoridades esportivas honestas a res- ponsabilidade de revelar, aos poucos, a verdade sobre a corrupção genera- lizada no esporte. E muito dessa cor- rupção é nutrida pelo dinheiro que a televisão despeja no esporte. Há 30 anos, publiquei com um colega o livro Sports for Sale – TV Money and the Fans (Oxford Univer- sity Press). Nele, prevíamos o cresci- mento descomunal do poder da tele- visão sobre o esporte no mundo todo e o consequente declínio do jorna- lismo esportivo em jornais e revis- tas. Naquela era pré-internet, já dava para ver claramente que a televisão – e os direitos de transmissão pagos a clubes, ligas e organizações interna- cionais como Fifa e COI – iria engen- A cobertura de grandes eventos, como a Copa do Mundo, precisa fugir dos festejos propagandísticos. O único caminho é a reportagem de fôlego e a investigação apurada O marketing esportivo e seus defeitos colaterais

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