RJESPM 14.indb

16 julho | agosto | setembro 2015 ideias + críticas LÚcia araújo “aquelefoiomelhordostempos , foi opior dos tempos; aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez; foi a época da crença, foi a época da des- crença; foi a estação da Luz, a estação das Trevas; a primavera da esperança, o inverno do desespero...” E assim segue Dickens, na memo- rável abertura de Um Conto de Duas Cidades (EstaçãoLiberdade, 2010), em que narra o desmanche da sociedade emplenaRevoluçãoFrancesa,mas que poderia perfeitamente estar descre- vendo o quadro emque nos encontra- mos hoje, num eventual exercício de reflexão sobre o futuro do jornalismo. É exatamente desta forma: “... tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós, íamos todos direto para o Paraíso, íamos todos direto no sentido contrário”. Não sabemos se há salvação, se sere- mos admitidos no céu dos novos tem- pos ou exilados numa caverna dia- bólica do passado. Mesmo com o pé enterrado no pântano das incertezas, vamos dizer que é desejável buscar o lado luminoso da força e tentar enxer- gar a metade cheia do copo, apelando para uma metáfora mais vulgar. Isso não significa ignorar a metade indi- gesta. Pelo contrário. Significa apenas não ser derrotado pelas más notícias. E logo também vamos a elas. Apatia nessa hora não ajuda ninguémna luta pela sobrevivência cotidiana. Creio que antes de falar de crise no jornalismo, no futuro da economia das notícias, é imperativo reconhecer que, como na era dickensiana, esta- mos vivendo um tempo de desloca- mento tectônico de conceitos, papéis, relações. Trata-se realmente de uma nova ordem. Não só para amídia, mas para todos, como sociedade. As dis- rupções eclodem em cadeia a toda hora, por toda parte: a alimentação estámudando, o relacionamento com omeio ambiente, as relações de traba- lho, as relações amorosas, os partidos políticos, os políticos. Não deixa de ser uma boa notícia. Afinal, não estamos sozinhos no esforço para compreen- der, interagir e sobreviver às avassala- doras mudanças de modo de vida, de mindset, que atravessa todas as dimen- sões da existência, escora-se em tec- nologias de comunicação e se desen- rola em cadeia e em escala globais. Outra boa notícia é que a comu- nicação em geral e o jornalismo em particular estão vivendo um grande e desafiantemomento, comexperimen- tos brotando por toda parte. É tanta tentativa e erro que não é possível que não encontremos uma maneira cria- No pântano das incertezas A crise dos telejornais está instalada. E agora? Qual o futuro da TV? Pode haver aí uma oportunidade de inverter as profecias indigestas

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx