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18 julho | agosto | setembro 2015 Não é de admirar a busca quase obsessiva, por parte dos empresários, dos publicitários, dos antropólogos, por conhecer e entender o compor- tamento e o pensamento da chamada geração domilênio, dos nascidos à luz danovaordemdigital, que atéoutrodia assistiama Teletubbies e Vila Sésamo e que estão determinando no presente o que será o futuro de nós, jornalis- tas, das empresas e da cadeia produ- tiva que se achava instalada até então. Eles tambémnavegamcomdesenvol- tura invejável pelomundo da internet, criando ummodo diferente de consu- mir, escolher e assimilar as informa- ções, e também condenando à obso- lescência tudo o que nós, os baby boo- mers , achávamos que sabíamos sobre produção e distribuição de notícias. E, principalmente, sobre o modelo de negócio. Em uma pesquisa na mesma linha do Pew, a Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford, concluiu que a habilidade das empresas jornalísticas de fazer dinheiro online estava ameaçada por três fatores: “a força dos intermediá- rios, como o Google e as redes sociais, quenãodesejamcompartilhar as recei- tas; baixo índice de publicidade, sobre- tudo nos dispositivos móveis; e os softwares que bloqueiam anúncios. Entre 40% e 47%dos internautas nos EstadosUnidos eReinoUnido instala- ramtais bloqueadores. Apesar de algu- mas experiências bem-sucedidas de paywall – tipo de pedágio que cobra o conteúdo, como o caso do New York Times –, ou de assinaturas eletrônicas adotadas por grande parte dos jornais e revistas, o estudo da Reuters “não encontrou nenhuma tendência dis- cernível em direção ao aumento do conteúdo online pago”. Volume de tráfego Ainda que os paywalls estejam longe de representar a “bala de prata” que salvará o negócio do jornalismo, vale reconhecer que a implantação desse “pedágio” exige que o conteúdo seja de qualidade insuperável comparado ao que sepode encontrar de graçana rede. Ou seja, para ser sustentável, a opera- ção jornalística na rede pede muito mais qualidade e diferenciação como alternativa ao conteúdo gratuito, cujo sucesso depende de grande volume de tráfego, como é o caso do Buzzfeed ou do Huffington Post . Umdos dadosmais perturbadores e sintomáticos fatos da história do jorna- lismo recente foi a venda do Washing- ton Post , um jornal respeitado de 140 anos de idade, por umpreço bem infe- rior ao valor obtido pelo Huffington Post , uma iniciativa de jornalismo em tempos de internet e das redes, com menos de uma década de existência. Sem falar do retumbante sucesso do Buzzfeed , ícone dos millennials , que fez sua fama nadandode braçada emoutra tendência que define essa geração: a convivência da notícia com o entre- tenimento. Apoiado nas redes sociais, o Buzzfeed , lançado em2006, esbanja conteúdos leves, criando listas de todo tipode coisa, divulgando vídeos e fotos que entretenham o público. Criado por um dos fundadores do pioneiro Huffington Post , Jonah Pe­ retti, o Buzzfeed começou como um projeto de experimentação mistu- rando conteúdo viral que desabrocha nas redes sociais comconteúdo jorna- lístico e fait divers , por meio de uma plataforma que identifica, recolhe e distribui o que “bomba” nos espaços virtuais de compartilhamento. Ao informar sobreassuntos variados, de diferentes procedências, o Buzzfeed transgride outro dos tradicionais pila- res do jornalismo: a sacrossanta sepa- ração entre Igreja (notícias) e Estado (publicidade). No Buzzfeed , segundo um de seus diretores, boa parte da receita provém de conteúdo patroci- nado, que é trabalhado criativamente de modo a aumentar sua atratividade para o compartilhamento massivo. Lado a lado e muitas vezes se confun- dindo com as notícias. O fato é que, se de um lado postos de trabalho e veículos inteiros fecham vagas e se despedem melancolica- A sacrossanta separação entre Igreja e Estado é desafiada pelo sucesso dos novos veículos digitais

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