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30 julho | agosto | setembro 2015 Um depoimento admirável que revela o lado inconfessável de um corrupto inominável e desvela o que ele pensa do jornalismo inefável Tudo é uma questão de manter... o coração tranquilo ah, essa imprensa, bendita imprensa. Olha, vou contar uma coisa: se eu pu- sesse as mãos nesse tal de Gutenberg, garanto que não sobrava tipo móvel nem imóvel. Jornal, rádio, revista, TV, blog e internet andamde doer. Pegamdemais no nosso pé. No meu, no dos políticos, no dos empreiteiros. Ora, tenha dó de quem tem saco, seu moço. Me apresento: Jubileu de Almeida, maranhense de Pinheiro, servidor público, 68 anos, bacharel em filosofia e letras, morador desde 1970 emBrasília. “Bra- sília... uma prisão ao ar livre”, como costumava dizer Clarice Lispector. Isso bem antes de a Papuda virar centro de detenção provisória de ex-ministro, ex-deputado, ex-senador... Uma esculhambação. Em 1970, não tinha isso não. Época boa aquela doMobral – escre- veu, não leu, opau comeu, seuErnesto. É fácil falar de escândalo, rouba- lheira, falta de ética, ausência demoral. Facílimo enxovalhar político, metra- lhar empreiteiro, achincalhar a Petro- bras. Quero ver é fazer. Como? Ora, meu amigo, fazer a economia infor- mal crescer. Perfurar no lugar certo, extrair o cacau para lubrificar o sis- tema financeiro na Suíça. Prospectar comissão, encher caixa dois, três, qua- tro, feijão no prato. Enfim, fazer a roda da fortuna girar, que isso aqui, ioiô... Mas tudo comelegância, semser pego coma botija na boca, todo lambuzado de mel. Digo isso porque, modéstia às favas, sei fazer. Sempre soube. Nunca fui pego. E, quem diria, aprendi meu ofício estudando filosofia e letras na Universidade de Brasília (UnB). Sou um filho do ensino público. Quando eu era jovem, pensava que dinheiro era a coisa mais importante domundo. Hoje, tenho certeza. Quem diz isso não sou eu. Foi o OscarWilde, já velhinho. Cabra bom, irlandês inte- ligente. Eu tinha acabado de chegar a Brasília quando li essa frase – e come- por jubileu de almeida em t e s t emunho f e i t o a fernando paiva

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