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32 julho | agosto | setembro 2015 veio inspiração. Dá para imaginar que certa vez passei por uma crise? Que nem naquela canção do Vinicius, tinha dia que eu ficava pensando na vida e sinceramente não via saída... Aí me deram um livro do Mahatma. E estava lá, com todas as letras: “Um objeto, mesmo que não tenha sido adquirido por meio de roubo, deve ser considerado furtado se o possuímos sem dele pre- cisarmos”. Ora, eu sempre – s-e-m-p-r-e – precisei da minha fazendinha no Maranhão, de um gadinho pra botar lá, da casa de praia no Calhau, mode ficar perto do Padim. Sempre tive necessidade de ajudar parente, mandar patroa, filhos e netos três vezes por ano para Miami, da cobertura no Leblon, trocar de Porsche a cada quatro anos, aproveitando pixuleco que sobrava de eleição. Sempre precisei disso tudo! Agora, não posso fazer nada se a questão filosófica está na hermenêutica do que seja adquirir, roubar, furtar – isso é lá com o padre Vieira. Só sei que, desde aquela época, todo Carnaval saio de joelhos atrás dos Filhos de Gandhi em Salvador. Promessa que fiz pra São Dimas. Ninguém imagina o quanto a gente sofre toda vez que vaza um forrobodó para a imprensa. Não é mole, não. Mas sabe de quem é a culpa? Dessa renca de amadores aí. Gente que não é profissional. Bando de diletantes. Cagões que não aguentam o repuxo – e na hora H entregam o ouro para os bandidos, quer dizer, pra Justiça. Certo, mesmo, estava o Bardo: “A sus- peita sempre persegue a consciência culpada; o ladrão vê em cada som- bra um policial”. Grande William Shakespeare! Se vivesse hoje no Brasil, suas tragédias seriam muito mais inspiradas. Agora, tem gente que é do ramo. Aprende rápido, sem sofrimento. Eu mesmo fiz media training para vários figurões. Os nomes não posso reve- lar, cláusula de confidencialidade. Na hora em que a chapa esquenta, o importante é sacar damanga amáxima socrática: “Só sei que nada sei”. Mais nada. E repetir à exaustão: “Não sei de nada, nunca soube, não é comigo, quando cheguei já estava assim”. A imprensa chia, claro. Mas isso é jogo jogado. Se a pressão aumentar demais, vale até apelar para a desorientação mental: “Oncotô? Quencossô?”. Às vezes funciona. ■ fernando paiva , publisher da Custom Editora, é jornalista em São Paulo. C M Y CM MY CY CMY K ilustrações: Caco galhardo
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