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40 Julho | agosto | setembro 2015 ler tal pessoa era tão boa quanto sua capacidade de ler umamigo chegado. E de quanto tempo estamos falando? Trinta minutos. O tempo, ou pelo menos a quanti- dade de informação obtida durante esse tempo, é crucial para a empatia. E não só no contato direto com outra pessoa. Ao ler um texto, é o mesmo. Quando falamos de empatia, em geral usamos termos abstratos, como se a coisa fosse uméter emocional cir- culando dentro de nós. Mas a empa- tia é produto de atividades tangíveis no cérebro – cuja compreensão pela neurociência avançoumuitona última década, relatam dois neurocientis- tas, Jamil Zaki e Kevin Ochsner, em artigo de 2012 na revista Nature Neuroscience . Essas descobertas científicas podemnos ajudar a entender melhor algo que, instintivamente, já sabía- mos há tempos – que uma narrativa jornalística pode despertar a empatia do leitor – e por que, segundo alguns, a leitura digital estariamexendo com essa reação. Depois de analisar estudos neuroló- gicos da empatia, dois neurocientistas, PhilipL. Jackson e JeanDecety, apon- taram importantes processos neurais como a base da empatia. Exemplo: ao ver alguém em perigo, sua primeira reação pode ser imaginar a si mesmo namesma situação – processo comu- mente chamado de experience sha- ring , ou experiência compartilhada. Embora a experiência compartilhada possa ser afetiva e automática, outro processo crucial na base da empatia envolve a reflexão consciente sobre a experiência vivida pelo outro, algo chamado de perspective taking – ou colocar-se no lugar do outro. Esses dois processos motivam a pessoa a agir para tentar melhorar a situação do próximo. Processos neurais Voltemos, agora, ao café de parágrafos atrás. Desta vez, seu único poder é a capacidade natural do ser humano de inferir o humor ou o estado de espírito do outro. Digamos que você pare para conversar comamulher cujo pai mor- reu. Você ouve sua história, observa sua linguagemcorporal, capta seu tom de voz. Numa fração de segundo, seu cérebro cria uma espécie de retrato interno de você, leitor, vivendo algo parecido, uma “representação” própria da dor emocional que vê o outro sen- tindo. Para completar, você assume a perspectiva da interlocutora, tentando inferir o que ela está sentindo: ela era chegada ao pai, imagino quão dolorosa deve ser essaperda . Porentenderasitua- ção damulher, você é impelido a fazer algoque traga algumalívio. Umabraço. Oferecer-se para buscar comida. Somos capazes de compartilhar da experiência alheia porque o cérebro ativa sistemas neurais sobrepostos para produzir a própria representa- ção de uma situação desagradável e para a percepção do outro que vive essa situação. Ou seja, uma maneira de entender o sofrimento alheio é for- mar uma imagem mental de você no papel do sofredor. Por sermos criatu- ras altamente sociais, nosso cérebro interliga nossa própria experiência e a do outro. Decety e Jackson indicam experi- mentos que, a seu ver, demonstram essa inata faculdade social do cére- bro humano. Num experimento feito porMarvinSimner em1971 e repetido inúmeras vezes desde então, uma série de bebês foi exposta ao som, gravado, de outros bebês chorando. A reação dos pequenos é imediatamente abrir um berreiro. Isso se chama imitação e, segundo os autores, é algo funda- mental no comportamentohumano. O estudoconclui queapercepçãoeaação estão interligadas no cérebro desde o nascimento: um bebê ouve o choro e Quando alguém se depara com outra pessoa em perigo, a primeira reação é imaginar-se na mesma situação

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