RJESPM 14.indb
revista de jornalismo ESPM | cJR 41 essapercepçãodesencadeia sua ação: é melhor eu começar a chorar também. Adultos vivem inconscientemente imitando o comportamento alheio. Sotaques, modos, velocidade da fala, movimentos. Por isso o bocejo é tão contagioso. Aqui, a ação é mais inconsciente do que deliberadamente empática, embora tampouco seja uma casua- lidade biológica. A imitação tem a vantagem adaptativa de criar víncu- los entre as pessoas, promovendo a empatia e a cooperação social, dizem Decety e Jackson. Num experimento feito em 2004, RickvanBaarenecolegasdescobriram que as pessoas ficavammais simpáti- cas e prestativas quando seus modos eram imitados. Basicamente, estão dizendo que preferem quem é pare- cido comelas, pois sentemque enten- demesse outro–que, por conseguinte, recebe tratamento preferencial. O senso de semelhança é crucial para a empatia. Atrocidades como o holocausto e os genocídios na Bósnia ou em Ruanda se apoiaram em cons- tructos sociais que converteram gru- pos de indivíduos em “outros” vis- tos como fundamentalmente distin- tos e, portanto, indignos de empa- tia. Na mesma veia, Decety e Jack- son resumem um estudo que mos- tra que, quando alguém trava contato com um outro percebido como dife- rente, émenor a probabilidade de que seu cérebro produza aquela imagem espontânea de si vivendo o mesmo sofrimento desse outro desconhecido. Aí reside o insight e o talento de autores de não ficção como JacobRiis, que sabiam que uma narrativa bem tecida pode fazer o leitor se identifi- car e sentir empatia pelo personagem. Vários dos estudos aqui citados forambaseados em interações huma- nas presenciais ou gravadas. Mas, como será possível notar na seção seguinte, uma narrativa de não fic- ção pode ser igualmente capaz de gerar empatia. A dúvida é se tal nar- rativa, ainda que bem construída, estaria perdendo seu poder com o advento de novas formas de intera- gir com um texto. Num dia frio no final de 2013, uma menina de 12 anos, Dasani, estava com a mãe e duas irmãs num trem que ia para o Brooklyn, em Nova York. Foi Arquivo CJR / Jacob A. Riis Em textos e imagens, Riis levou ao conhecimento da elite leitora americana, no final do século 19, o desespero de pessoas reais
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