RJESPM 14.indb
revista de jornalismo ESPM | cJR 43 no artigo The Role of Transportation in the Persuasiveness of Public Nar- ratives ( O Papel do “Transporte” na Capacidade de Persuasão de Narrati- vas Públicas , em tradução livre). Esse sentimento pode ser forte a ponto de produzir umcomportamentoalterado, como dar uma nota de 100 dólares a uma família de desconhecidos. David ComerKiddeEmanueleCastanosuge- rem inclusive que a leitura de narrati- vas aumenta nossa empatia de modo geral, pois nos lançaria a um intenso exercício de tomada de perspectiva. Algo que instintivamente sabíamos – que uma narrativa jornalística tem o poder de despertar a empatia entre leitores – é corroborado pela ciência. Resta saber, agora, se esse poder pode diminuir à medida que nossa cultura migra para o digital. Questão de tempo Uma mulher de meia-idade estende a mão para abrir a porta de casa. Seu corpo é rígido, os membros se proje- tam em ângulos agudos. A cadeira de rodas avança e para numa estranha síncope. São movimentos típicos de alguém com paralisia cerebral. Ao fimde alguns segundos a câmera enquadra seu rosto, que se contorce de forma intermitente. Um narrador começa a falar sobre a infância dela. “Tinha um grupinho de amigos, com quemmantinha uma relação bempró- xima. Mas, de repente, pararam de sentar comigo na hora do almoço, não respondiam quando eu falava com eles. Fiquei sozinha”, diz ela. “E, no caso de uma relaçãomais íntima, viver numa cadeira de rodas é como estar sempreprotegidapor ela. Éumescudo entre você e o sexo oposto. É difícil ter intimidade.” O relato prossegue: “Para ser bem franca, não me vejo numa relação romântica. Acho que cheguei (...) a um ponto no qual a barreira é tão grande que nem quero pensar nisso, pois se penso fico triste”. A mulher em questão foi tema de um documentário de um minuto e meio de duração apresentado a par- ticipantes de um estudo sobre admi- ração e compaixão na University of Southern California, nos Estados Unidos. Treze pessoas viram esse vídeo ou algum outro com a mesma tônica – todos feitos para provocar uma resposta emocional. Depois de um breve intervalo, os voluntários se submetiam a uma ressonância magnética para detectar mudanças na oxigenação do sangue no cére- bro, indicador da atividade neural. Eram instruídos a lembrar da histó- ria. Para ajudar no processo, rece- biam uma ajuda: no caso, uma ima- gem da mulher e o trecho do áudio no qual dizia “Não me vejo numa relação romântica”. Os pesquisado- res descobriram que, quando aquele grupo ouvia a declaração, seu cére- bro registrava atividade na ínsula anterior, uma região que também é ativada em estudos nos quais os par- ticipantes processavam emoções e estados físicos. O grupo teve a mesma reação quando viu imagens associadas à dor física: o close de uma perna quebrada durante uma entrada dura numa par- tida de futebol ou a foto de um hal- terofilista que fraturou o cotovelo esquerdo sob o peso de uma barra de 160 quilos. A diferença entre os dois testes foi no tempo que as pessoas leva- ram para reagir. Quando os voluntá- rios viram vídeos curtos com ênfase na dor física, o pico da atividade na ínsula ocorreu em cerca de seis segundos. Já quando a tônica era a dor social ou psicológica, a resposta demorou o dobro do tempo, 12 segun- dos. Apesar do pequeno número de participantes do estudo, os resulta- dos foram impressionantes: os pes- A ciência corrobora que a narrativa jornalística tem o poder de despertar empatia. A cultura digital mudará isso?
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