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44 Julho | agosto | setembro 2015 quisadores aplicaram análise esta- tística para indicar que a resposta à compaixão pela dor social nessa região do cérebro era mais demo- rada do que a compaixão pela dor física. “Certos processos cognitivos – sobretudo a tomada de decisões morais sobre a situação social e psi- cológica de outras pessoas – exigem certa quantidade de tempo e refle- xão”, disseMary Helen Immordino- -Yang, professora associada da Uni- versity of Southern California e uma dos quatro pesquisadores do estudo, quando da divulgação dos resulta- dos, em 2009. “Se as coisas estive- rem acontecendo rápido demais, o risco é que a pessoa não consiga pro- cessar plenamente as emoções que seriam despertadas pelo estado psi- cológico do outro, o que teria impli- cações para sua moralidade.” A empatia, a capacidade de estabe- lecer uma conexão com outros seres humanos, é fundamental para o com- portamentomoral. Mas exige tempo. Isso posto, quais as implicações para um setor no qual o trabalho de jornalistas é cada vez mais con- sumido digitalmente, um formato que se presta à agilidade? Na inter- net, o leitor corre os olhos por tex- tos, pula de link em link – e é bom- bardeado por alertas, e-mails, janeli- nhas commensagens. Segundo pes- quisa de 2005 de Ziming Liu, da San Jose State University, nos Estados Unidos, a leitura no digital se dá de modo fundamentalmente distinto da leitura no papel. Capacidade de processar Umestudo de 2006 de Karin Foerde e colegas revela, por exemplo, que fazer mil coisas ao mesmo tempo – o mul- titasking – pode mudar o modo como aprendemos e lembramos de fatos, eventos e experiências, tanto no plano comportamental como no neural. E, aliás, a capacidade de processar diver- sos elementos no digital não melhora com a prática. Segundo um trabalho de 2009deEyal Ophir e colegas, publi- cado na Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA , quem passa mais tempo pulando de lá para cá na internet temmenos capacidade de filtrar informações irrelevantes e evitar distrações. É uma descoberta importante para a leitura digital porque o “processa- mento paralelo” – a digestão simul- tânea de fragmentos de informações sem nenhuma relação entre si – não é o forte do ser humano. Imagine o típico adolescente hiperconectado, ouvindomúsica no Spotify, checando o Tumblr, papeando no Facebook e, ao mesmo tempo, estudando para a prova, o que nemde longe é uma aber- ração: um estudo (que não foi peer- reviewed , é verdade) encomendado pela Time Inc. demonstrou que “nati- vos digitais” (gente que cresceu coma mídia digital) mudam de plataforma demídia 27 vezes por hora, emmédia. Odado é corroborado por uma pes- quisa de 2005 de Lori Bergen e cole- gas. O experimento envolveu 60 alu- nos da Kansas State University, nos Estados Unidos, e o noticiário da CNN. Metade viu reportagens com tudo o que aparecia na versão origi- nal, incluindo logos, ícones e toda a informação que fica correndono pé da tela. Já a outra metade viu ummate- rial editado, sem essas distrações, só com o apresentador. Talvez não sur- preenda que o grupo das distrações lembrou 10% menos do conteúdo. Na internet, alémde estarmos sem- pre pulando de lá para cá, o esforço constante de adaptação ao visual de cada site dificulta ainda mais a con- centração, como indicarampesquisa- dores suecos e britânicos numestudo de ErikWästlund e colegas em2004. Ainda não há consenso se a multimí- dia, usada com frequência no meio O multitasking pode mudar o modo como aprendemos e lembramos de fatos, eventos e experiências

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