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revista de jornalismo ESPM | cJR 47 culo para transmitir informações de um jeito que pode levar o público a ler algo que normalmente não leria; o meio expõe o leitor a uma varie- dade maior de avenidas de informa- ção nesse mundo bidimensional. E isso pode ser particularmente salu- tar para pessoas que não buscariam essa informação por conta própria. Quando fizeramuma pesquisa com leitores de jornais online e impres- sos na Holanda em 2005, Klaus Schoenbach e colegas descobriram que havia um grupo cujo conheci- mento de fatos e assuntos de inte- resse público crescia devido à lei- tura frequente no meio impresso: gente com interesses bem limita- dos. Um estudo similar em2011, feito na Coreia do Sul por JungAe Yang e Maria Elizabeth Grabe, sugere que o leitor com baixo nível de escolari- dade consegue entender mais notí- cias de interesse público ao ler o jornal físico do que ao navegar no site. Nesse sentido, o jornal pode ser mais capaz de despertar o interesse de gente desinteressada e de infor- mar quem é desinformado sobre um assunto qualquer. Um plano ortogonal garante grande visibilidade nas ruas de uma cidade, embora também restrinja o deslocamento a quatro sentidos. A circulação por esse espaço é mais metódica – árdua, até –, embora isso possa ajudar o leitor a lembrar o que viu durante o percurso e, tal- vez, mais do que recorda de incur- sões por mídias digitais. Folhear uma revista impressa, por exemplo, é um meio relativamente lento de achar textos que desper- tem nosso interesse – ao menos para os padrões digitais. Mas um expe- rimento feito por Robert G. Magee em 2012 sugeriu que essa navegação demorada tem um lado bom. O pes- quisadormandou a cerca de 7.000pes- soas que concluíram a graduação um exemplar impresso ou a versão digi- tal da revista trimestral de seu res- pectivo curso. Posteriormente, 675 desses participantes responderam a uma pesquisa por telefone na qual tiveram, primeiro, de citar esponta- neamente artigos da revista e, depois, recordar se textos citados pelo indi- víduo que aplicava a pesquisa tinham aparecido ou não na publicação. Somos o que lemos A lembrança espontânea – sem qual- quer indução – foi baixa nos dois grupos. Mas, na somatória, leitores do impresso lembraram de matérias commais frequência do que a turma do digital (0,45 matéria em compa- ração com 0,16 matéria, em média). O primeiro grupo também lembrou de mais textos quando recebia uma lista (3,49 versus 2,75). Este último dado sugere que o leitor do impresso folheoumais a revista, encontrando ao longo do caminho um número maior de textos. Curiosamente, a diferença emtaxas de retenção entre a leitura do exemplar impresso e a versão digital foi maior entre o grupo mais jovem do estudo. O leitor, em outras palavras, en­ tende o espaço bidimensional do impresso; é fácil circular por uma planta ortogonal. Já a internet é de uma ordem totalmente distinta. Não só adicionou uma terceira dimensão à eletrizante metrópole – arranha- céus de informação que se projetam nas alturas –, mas também eliminou qualquer limitação física à circulação. Ainda é possível ir de rua em rua e absorver cada quadra. Mas há jeitos muito mais eficientes de explorar o espaço. Links em textos são como um wormhole , umatalho que o leva a qual- quer destino. Mecanismos de busca, por sua vez, são basicamente portas laterais que se abrem para pratica- mente qualquer lugar. O leitor entende o espaço bidimensional do impresso, já a internet é de uma ordem distinta

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