RJESPM 14.indb
48 Julho | agosto | setembro 2015 É bemmais fácil achar fragmentos específicos de informação. Quer saber o que está acontecendo na Síria? O Google o leva até lá emumcentésimo de segundo. Precisa de uma receita caseira de comida de gato? A inter- net tem a resposta. Nunca, na histó- ria, foi tão rápido obter informações, mas cientistas cognitivos se pergun- tam se nossa mente é capaz de acom- panhar o ritmo. O leitor vai se adap- tar ao novo ambiente?Nesse processo, vai perder algo? Métodos mais eficientes Umtrabalho comalunos da sexta série do ensino fundamental americano em 2007 é umdos muitos que tentamdar resposta a essas perguntas. As autoras, JulieCoiroeElizabethDobler, observa- rampupilos comhabilidades avançadas de leitura enquanto usavammecanis- mos de busca e vasculhavamsites rele- vantes embusca de informações sobre três tópicos: tigres, furacões e aterros sanitários. Alémde usarmétodos clás- sicos de pesquisa no texto impresso – buscar palavras-chave e usar o que já sabiam sobre tigres, digamos –, os estudantes emcertos casos ignoraram essas estratégias em favor demétodos mais eficientes. Para começar, sabiam o que cons- titui uma boa busca. “Se [os primei- ros resultados] não servem, a maioria dos demais tampouco vai servir, e é melhor recomeçar a busca”, disse um aluno chamado Chad. Usando links, iam se embrenhando por sites, rapi- damente chegando a informações importantes. Essa navegação acele- rada, observaram os pesquisadores, mostrou que os alunos eram capazes de prever aonde um link podia levar. Uma aluna que buscava informações sobre furacões chegou a descrever o exercício em termos tridimensio- nais. “Vou clicar [num link do Natio- nal Hurricane Center] porque parece bem básico”, explicou. “E aí vou ver se tem outro título logo abaixo [na página seguinte] ”. Naturalmente, esse exercício de suposição embasada no meio digital também exige uma navegação mais complicada do que no impresso. Os alunos previamo que iriam achar em cada página,monitoravame avaliavam a precisão dessas inferências e, depois, repetiamo processo emrápida suces- são. Esse processo cognitivo era acom- panhado de ações físicas como rolar a página, clicar, digitar. Os autores do estudo concluíram que aquela turma específica da sexta série dominava bem essa modalidade ativa e com- plexa de leitura. A mídia digital pode dar a leito- res mais avançados a flexibilidade de localizar informações específicas, mas aí reside outro potencial pro- blema. O estudo de leitores de jornais na Coreia do Sul revelou que parti- cipantes com alto grau de escolari- dade exibiam basicamente o mesmo nível de compreensão de notícias de interesse público no impresso e no digital. Já quem tinha menos escolaridade tinha uma compreen- são “significativamente maior” da notícia quando dada no impresso. Essa diferença, que os autores deno- minaram de “vão de conhecimento”, poderia crescer à medida que um volume maior do consumo de mídia for migrando para o digital. De modo similar, a pesquisa holandesa obser- vou que “participantes com alto grau de escolaridade se inteiram de mais fatos e assuntos de interesse público usando jornais online por longos períodos de tempo”. Os auto- res deramduas explicações possíveis: esse grupo podia saber usar melhor a mídia digital ou era mais inclinado a buscar informação sobre temas de interesse público em primeiro lugar. Juntos, esses resultados servem tanto de alento quanto de alerta sobre Talvez fique provado que o papel nos emociona mais do que a tela de um computador ou smartphone
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