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50 julho | agosto | setembro 2015 Furo faz imprensa perder a linha O ganhador do Pulitzer que revelou o massacre de My Lai, no Vietnã, é duramente criticado ao alegar que a CIA mentiu sobre atuação na captura de Osama bin Laden por trevor timm seymour hersh fez um serviço de utilidade pública ao trazer para o debate as perguntas em torno da nar- rativa oficial sobre o ataque americano quematouOsama binLaden [no artigo “The Killing of Osama bin Laden” – “O Assassinato de Osama bin Laden”, em tradução livre –, publicado na London Reviewof Books emmaiode 2015] .Mas emvez de desconstruir os argumentos deHersh, ou de apurar novos detalhes para refutar seu raciocínio, a maioria dos jornalistas tentou simplesmente matar o mensageiro. Muita tinta foi gasta para man- char a reputação de Hersh, enquanto quase nenhuma reportagem apro- fundada foi feita para corroborar ou derrubar suas alegações – por mais que seja claro que o governo Obama tenha repetidamente ocultado infor- mações sobre o caso. As pessoas pres- tarammenos atenção ainda nas pou- cas reportagens investigativas que foram feitas, que mostram que a CIA provavelmente mentiu sobre sua atuação na procura por Osama bin Laden para justificar o emprego da tortura para a opinião pública. Hersh tentou forçar os meios de comunicação a questionar o próprio papel na cobertura de umevento com potencial para mudar omundo –mas ficou claro que eles não conseguem fazer essa pergunta se as respostas não são as desejadas. Os críticos de Hersh responde- ram, quase da mesma maneira, com frases superficiais sobre as conquis- tas mais famosas do jornalista – a revelação do massacre deMy Lai, no Vietnã, em 1969 (pela qual ele rece- beu o Pulitzer), e o escândalo de tor- tura na prisão de Abu Ghraib, no Ira- que, 35 anos depois –, antes de cha- má-lo de “teórico da conspiração”, “maluco”, “paranoico”. Mas a maio- ria das críticas, alémdos milhares de palavras escritos sobre sua última matéria, se resume a “Isso não faz sentido para mim”, ou “Isso não é o que as fontes oficiais me disseram antes” ou “Como vamos acreditar em fontes anônimas?”. Mas, embora não haja como pro- var ou desmentir todas as alegações de Hersh sem apurar de novo a his- tória inteira, vamos analisar as críti- cas mais abrangentes uma por uma. Teoria da conspiração Ao descrever o trabalho de Hersh, nenhuma expressão foi repetida mais vezes do que “teoria da conspiração”. Seus detratores dizem que ele acusa
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