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revista de jornalismo ESPM | cJR 51 “centenas de pessoas em três gover- nos diferentes de criar e sustentar uma farsa internacional durante anos”. Como isso pode ser possível? Emprimeiro lugar, é ofensivo difa- mar um repórter lendário, que publi- cou mais reportagens importantes do que praticamente qualquer outro jornalista, e chamá-lo de “teórico da conspiração” porque sua história tem detalhes pouco plausíveis para o gosto de algumas pessoas. Teoria da conspiração seria algo como “O governo dos Estados Unidos está aco- bertando o fato de que Osama bin Laden ainda está vivo”, e não acusar o governo de divulgar um relato inve- rossímil sobre um assunto altamente confidencial – algo que o governo faz o tempo todo. Mas, além disso, é incrivelmente ingênuo pensar que o governo é inca- paz de manter um segredo desse tamanho, que envolve dezenas, cen- tenas ou mesmo milhares de pes- soas. Isso me lembra uma passa- gem das memórias de Daniel Ells- berg ( Secrets: A Memoir of Vietnam and the Pentagon Papers – Segre- dos: Uma Memória do Vietnã e dos Papéis do Pentágono , em tradução livre), o informante dos Papéis do Pentágono (documentos ultrasse- cretos do governo dos Estados Uni- dos sobre o planejamento e a polí- tica americana referentes à Guerra do Vietnã vazados à imprensa em 1971 por Ellsberg, então funcioná- rio do Pentágono) –, que sabe uma coisa ou outra sobre como os gover- nos guardam segredos. Ao repetir a ideia de que é impossí- vel manter segredos emWashington, que é “completamente falsa”, você está fazendo um favor para o governo ao passar essa história adiante. [Essas declarações] são disfarces, um jeito de bajular e enganar os jornalis- tas e seus leitores, uma maneira de guardar segredos. Claro que às ve- zes alguns desses segredos vazam, o que não aconteceria em uma socie- dade totalitária. Mas o fato é que a imensa maioria dos segredos não va- za para o público americano. A rea- lidade desconhecida do público e da maioria dos membros do Congresso e da imprensa é que segredos que são muito importantes para muitos de- les podem ser mantidos ocultos por décadas pelo Poder Executivo, mes- mo que envolvam muitas pessoas. Para usar um exemplo simples, que o próprio Hersh empregou em Em 2012, o Paquistão iniciou a demolição do complexo onde Bin Laden foi encontrado durante missão especial de soldados americanos Latinstock/Stringer/Xinhua Press/Corbis