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52 julho | agosto | setembro 2015 sua fascinante entrevista para o pro- grama de rádio On The Media  1 , quantas pessoas sabiamsobre amani- pulação de informações no governo Bush antes da invasão do Iraque em 2003? Centenas?Mais de mil? Quan- tos sabiam do programa de grampos emmassa da NSA (Agência de Segu- rança Nacional, na sigla em inglês), voltado contra os próprios cidadãos americanos, até que Edward Snow- den contasse toda a verdade? Mil? Dez mil? Foi segredo durante mais de sete anos até que uma única pes- soa – um prestador de serviços, não um agente da NSA – revelasse tudo. Se isso não for suficiente, leia sobre outros recentes acordos sobre assas- sinatos, assinados com o Iêmen e o Paquistão. Ambos eram secretos. A ideia de que umgrupo de pessoas não pode guardar um segredo é uma fan- tasia que os jornalistas devem parar de repetir. Fontes anônimas Tem sido interessante observar os jor- nalistas sematandoparaverquempode criticar commais veemência ouso que Hershfezdeinformantesanônimos,por mais que o uso do off seja um ritual de Washington que quase não recebe crí- ticas na cobertura diária. Trechos de conversas são impressos regularmente na primeira página sem os nomes dos envolvidos, e coletivas de imprensa são realizadas todos osdias com“membros do primeiro escalão do governo” que se recusama dar seus nomes (uma das jornalistas que aponta essa falha com muita propriedade é Margaret Sulli- van, ombudsman do NewYork Times ). De acordo comoperfil@NYTAnon doTwitter, depois de o texto deHersh ir aoar, numdomingoànoite, nos cinco dias seguintes o Times publicou pelo menos 20 matérias baseadas em fon- tes anônimas, quecobriamdesdenovos recursos doFacebook até uma disputa no Partido Democrata sobre o acordo comercial para que aCablevision, ope- radora americana de TV a cabo, aban- donasse o leilão do jornal Daily News , de Nova York. Imagine se os jornalis- tasquecriticaramHershgastassemum décimode suaenergiaparaatacar essas matérias. Porém, como era previsível, não se ouviu quase nada sobre isso. É claro, o anonimato muitas vezes é uma garantia, e o fato de as fontes de Hersh preferirem permanecer anônimasnãodeveriaserumasurpresa. Essasoperaçõessãoaltamentesecretas. O Departamento de Defesa ameaçou claramente processar quem falasse sobre o ataque a Osama bin Laden, mesmo coma CIA vazando a sua pró- pria versão dos fatos para amigos na imprensa e no cinema. Criticar as fontes deHershouques- tionar o conhecimento de seus infor- mantesnãoéumacoisasemcabimento. Ele deveria ter buscado mais fontes? Possivelmente. Mas Hersh disse em várias entrevistas que, embora o cerne da matéria se baseasse em um entre- vistado, os detalhes tinham sido con- firmados por várias outras fontes. Isso foi convenientemente ignorado por seus detratores. A CIA O veneno e o azedume dos colegas de profissão de Hersh são ainda mais inacreditáveis considerando que eles tratam um dos principais persona- gens da história deHersh, a CIA, com luvas de pelica. Amaior parte dos jornalistas jamais sonhariaemconfrontarummembroda CIA com a mesma agressividade com que atacamHersh –mesmo assim, há menos de seis meses, o Senado elabo- rouumrelatório de 500páginas docu- mentando emdetalhes minuciosos as inúmeras vezes em que a CIA men- tiu descaradamente para o público, a imprensa e o Congresso sobre o uso de tortura na última década. AafirmaçãodeHershdequeOsama bin Laden foi encontrado graças a um oficial do serviço de informação paquistanês – e não depois de ras- trear seu mensageiro, como alegava o governo americano –, em parte já foi confirmada por várias organiza- “Estou na estrada há um bom tempo e entendo as consequências do que estou dizendo”, afirma Hersh 1 Ver http://www.onthemedia.org/story/podcast-extra-seymour-hersh/

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