RJESPM 14.indb

revista de jornalismo ESPM | cJR 55 apertar um botão e implodir a repu- tação de qualquer semelhante ou organização sem se deter em crité- rios morais, as plataformas sociais criam em escala planetária zonas de sombra ou luz informativas combase em conveniências exclusivamente comerciais, com enorme repercussão sobre o desenvolvimento ou involu- ção das sociedades. Aumeditor do século20cabia avaliar as circunstâncias da notícia, sua ori- gem, relevância e atratividade, enqua- drá-la emparâmetros éticos e de pre- cisão para então dimensioná-la aos padrões gráficos, de espaço, periodi- cidade e interesse público do veículo a que ele prestava seus serviços. Base- ado em uma linha editorial e na téc- nica jornalística, mas, em particular, no seu talento e na sua percepção edi- torial, o editor dava forma e vida ao que o público tomaria enfim conhe- cimento. Quem viveu umdia emuma redação profissional sabe que este segue sendo um processo complexo, nada cartesiano, repleto de idas e vin- das e correções de rota. Erra-se e ava- lia-se bem ou mal uma notícia, mas, emsua esmagadoramaioria, redações estão ancoradas ao compromisso de entregar o melhor produto editorial possível para o público e, em última análise, para a sociedade. Pois é. Essemundo da realidade dis- tribuída exclusivamente por dutos jornalísticos morreu ou, pelo menos, está em estado vegetativo. Embora editores continuem tomando deci- sões – umestudo comexecutivos indi- cou que eles são os profissionais com maior número de encruzilhadas diá- rias –, essas decisões já não são defi- nitivas aos olhos do público. Lógica fria Com a explosão de conteúdos via redes, cada vez mais é um algoritmo que decide o que e quando você vai ler, ver, saber. Em suma, a difusão de informação, restrita antes a jornalis- tas, está se transferindo para as mãos de umexército de engenheiros noVale do Silício que não têmpor que se ocu- par de qualidade ou ética editoriais. O negócio deles não é jornalismo: é cap- turar usuários que entreguem infor- mações sobre suas vidas e digam o que lhes passa pela cabeça, traduzir essa audiência em dados e distribuir publicidade personalizada. É mais ou menos como se os departamentos comercial e demarketing assumissem o lugar da redação, com a diferença de que, com o algoritmo sentado na cadeira do diretor, não há com quem argumentar ou brandir regras de con- duta – apenas a submissão à sua lógica fria e diabolicamente eficaz. Em outras palavras, essa terceiri- zação do jornalismo foi magistral- mente captada por Emily Bell, dire- tora do Tow Center for Digital Jour- nalism, da Columbia University. Em uma conferência em novembro do ano passado no Reuters Institute, em Oxford, Emily dissecou a natureza do terremoto silencioso que ocorre neste momento. Algumas de suas conside- rações merecem ser recordadas aqui: Ao criar incríveis ferramentas fáceis de usar e ao encorajar o mundo a publicar, as plataformas de tecnolo- gia agora têm um propósito social e uma responsabilidade bem além de sua intenção original. A mídia con- vencional não entendeu o que estava perdendo, o Vale do Silício não enten- deu o que estava criando. WAN-IFRA Painel reúne Emily Bell, Vivian Schiller, Liam Corcoran, TomRosenstiel e Marcelo Rech

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