RJESPM 14.indb
revista de jornalismo ESPM | cJR 57 encontramuma extraordinária janela de oportunidade para contra-atacar. Não se trata aqui de demonizar as redes. Elas vieram, viram e conquis- taram seu terreno. É preciso assumir primeiro que o fenômeno é irrever- sível, a fim de que o jornalismo saia de sua letargia e salte para um novo nível, umnovo ciclo no qual jornalis- tas profissionais e empreendimentos jornalísticos se posicionem muitos degraus acima da mundana disputa de audiência entronizada pela popu- lar trinca BBB (bizarrices, bichinhos e bumbuns). Nesse novo patamar, a solução para o jornalismo profissional não émenos jornalismo: é mais e, principalmente, melhor. Esse novo jornalismo deve fazer das redes sua alavanca para ampliar a relevância, mas não ape- nas na distribuição de conteúdo. O novo patamar exige que repórteres, editores e colunistas assumamo papel de certificadores. Mais do que narrar fatos de domínio público, caberá aos profissionais empregar sua técnica e talento para confrontar, desmontar ou endossar o que já circula por aí. Pode-se argumentar que os millen- nials , a geração nascida entre 1981 e 1996, já não se importam tanto com asmarcas, mas simcomos conteúdos, estejamonde estiverem. Pode ser, mas é da natureza humana, antes, agora e sempre, não querer passar recibo de idiota. O status de um indivíduo em um grupo é medido também pela sua capacidade de contar algo que os outros não saibam, e de que essa novi- dade seja correta. Se for um assunto velho ou incorreto, sobe o status de quemo atualizar e corrigir, e automa- ticamente cai o do humilhado. Pois o novo jornalismo deve fornecer, com apuração sólida, precisão absoluta e, antes de tudo, pauta focada naquilo que fará uma diferença, as ferramen- tas para que seu consumidor não seja envergonhado e possa subir de status em seu grupo social. O consumo ou não de jornalismo profissional de alta qualidade e densidade, enfim, será a linha de corte entre os bobos da corte e os sábios da aldeia. Novos territórios Emmeio ao fog do campo de batalha, muitos empreendimentos jornalís- ticos já estão se erguendo e criando ou ampliando seus territórios. Vox , que veio para explicar e não con- fundir; Vice e Business Insider , com suas abordagens originais e ângu- los inusitados; Publico , com exclusi- vidade e análise em primeiro lugar; The New York Times , com intransi- gentes padrões de qualidade; e The Economist , com apuração, apuração e apuração que se reverte emprofun- didade e credibilidade, são exemplos da nova e antiga mídias convertidas ao papel de certificadores. No velho mundo jornalístico, os veículos são pautados e controlados pelas redes. Em um novo patamar, eles terão de reassumir sua função de agendadores da sociedade ao eri- gir altares à exclusividade, identifi- car em primeira mão o que será ten- dência, transformar essa percepção emmatéria-prima jornalística e intro- duzir, em todas as formas e platafor- mas, abordagens inéditas, noves fora o aval ou não de conteúdos já tornados públicos. O fact checking , tão comum em épocas eleitorais para contestar promessas de candidatos, deverá se tornar moeda corrente nas redações. O antídoto ao Facebook e seu poder revigorará as redações quando o jor- nalismo profissional for amplamente percebido como o ISO 14000 da infor- mação. Se e quando isso se materiali- zar em escala global, os editores não terão mais nostalgia do passado e os engenheiros voltarão a ser tão ape- nas engenheiros. ■ marcelo rech é diretor executivo de jornalismo do Grupo RBS e presidente do Fórum Mundial de Editores, eleito em maio passado .
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