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68 julho | agosto | setembro 2015 para ler e para ver leão serva romance Umberto Eco: O Nome do Zero e Número da Rosa Umberto Eco organiza os capítulos de seu mais recente ro- mance, Número Zero , em estrutura semelhante à de O Nome da Ro- sa , de 1980 (Editora Record, 2009, 2ª edição), sua estreia na fic- ção: cada um descreve fatos ocorridos num dia do curto período de tempo em que se dá o percurso da história. Como naquela obra anterior, que atingiu imenso sucesso em todo o planeta, ele usa ar- quétipos que garantem sucesso a folhetins, como o poderoso ocul- to que tenta as almas dos inocentes; um misterioso assassinato; o amor furtivo entre pessoas de estirpe diferente, que afirma a pu- reza dos sentimentos sobre os acidentes do mundo. Entre muitas coincidências, os dois romances se desenvolvem em torno da produção de meios de comunicação típicos do tempo: os livros manuscritos na biblioteca medieval e o jornal concebido em uma redação experimental ao final do século 20. Há também paralelo no fato de que o mosteiro do primeiro livro não produzia obras inéditas, apenas copiava, e, neste, o jornal não tem novida- des, apenas reproduz fatos já noticiados por outros. O título Número Zero remete à expressão usada por jornalis- tas para definir as edições experimentais usadas para testes du- rante a preparação de novos títulos. No enredo, um empresário decide criar um jornal para ameaçar a elite italiana. Não se trata de pôr a circular o veículo, apenas criar uns tantos números ze- ros para serem vistos por um número restrito de pessoas, con- tendo notícias potencialmente destrutivas e, sem usar a pala- vra chantagem, fazer-se temi- do e respeitado para, quem sa- be, ganhar uma grana de gran- des fortunas italianas em tro- ca de não publicar nada que as prejudique. A história se passa no ano de 1992, o último antes de o mun- do conhecer a internet (que até então era um sistema de comu- nicação que ligava computado- res de universidades e sistemas militares), o que explica por que o escritor tenha falado tanto sobre a rede de computadores nas entrevistas que marcaram o lançamento do livro, que explo- ra o modo de produção de um jornalismo sensacionalista: se- gundo suas declarações, a in- ternet passou a ser o locus do jornalismo mais escroto, ama- relo, marrom, de celebridades, ou que nome se queira dar ao li- xo do conteúdo que sempre cir- culou, mas que descobriu na co- municação eletrônica um am- biente propício. Em O Nome da Rosa , o tem- po é anulado como se o autor olhasse o passado através de uma teleobjetiva, que elimina a perspectiva e iguala os pla- nos pretéritos. No final, o livro diz: “Stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus” . Da rosa do passado, desaparece a his- tória, ficam apenas os nomes. É dizer: todo o enredo do pen- samento ou dos personagens se anula numa sucessão de no- mes vazios. Traduza essa ideia para um jornalismo de celebridades (ou Roberto Magliozzi Umberto Eco entre os livros de uma vida, em sua casa, emMilão
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