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10 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2015 DIFERENÇAS CULTURAIS Tradição japonesa confronta modelo britânico UMA FRASE “Muitas empresas jornalísticas reduziram drasticamente suas redações para enfrentar a concorrência digital. Mas não o Times. ” (Dean Baquet, editor-executivo do New York Times , sobre a marca de 1 milhão de assinantes digitais do jornal, atribuindo-a à qualidade de sua redação) o financial times é outro jornal que tem atualmente mais assinantes do que jamais teve, em127 anos de vida. Mas desde que a empresa japonesa Nikkei ocomproudaPearsonporUS$ 1,3 bilhão, em julho, muitos se preo- cupamse o padrão de qualidade edi- torial, independência e espírito crí- tico que fizeram dele um dos mais admirados veículos jornalísticos do mundo irá se manter. A desconfiança se origina no fato de que a cultura jornalística japonesa é de quase subserviência a governos, empresas e fontes emgeral, eaNikkei, cujos jornais vendem 2,5 milhões de cópias diárias, não é exceção à regra. Em setembro, 200 jornalistas do F.T. mandaramaos seusnovospatrões uma carta aberta (e publicada no jor- nal) emque lhespedemquegarantam “as liberdades presentes e futuras de nossagovernança”.Queremqueessas liberdades sejam formalmente defi- nidas em documentos legais. Os principais dirigentes do jor- nal, inclusive o seu respeitado edi- tor, Lionel Barber, não apoiaram a iniciativa. Dizem que a Nikkei já se comprometeu a respeitar a indepen- dência editorial do F.T. e que isso é garantia suficiente. ■ UM DOS MAIS FAMOSOS jornalistas americanos dos anos 1990, Stephen Glass, construiu sua carreira de re- pórter emcima demuitas purasmen- tiras, comosecomprovouapósmuitos anos de sucesso. Sua meteórica ascensão, com re- portagens cheias de detalhes pican- tes, diz muito da cultura jornalística ocidental do final do século 20, quando veículos tradicionais abriram mão do rigor da qualidade para in- centivar o sensacionalismo, a fimde competir com as crescentes mídias digitais. Glass foi um caso extremo de fa- bulista, dada a profusão e intensi- dade de sua produção, que rendeu até um filme, O Preço de Uma Verdade , de Billy Ray. Pego nas mentiras, Glass escreveu um livro sobre elas (claro), e tem ten- tado recompor sua vida como advo- gado, mas as ordens da profissão lhe têmnegado sucessivamente o direito de exercê-la. Agora, volta ao noticiário porque começou a devolver o dinheiro que ganhou das revistas para quem escreveu ficção como se fosse jornalismo. Mandou US$ 10mil para a Harper’s , quantia que ele acha ter recebido por uma de suas histórias. A Harper’s acei- tou o reembolso. Glass calcula que vai pagar mais de US$ 100 mil pelo perdão de todas as suas fábulas. ■ O preço do perdão FÁBULAS Capas dos jornais Nikkei e F.T. com a notícia da compra de um pelo outro título: 45 TOQUES GETTY IMAGES / THE ASAHI SHIMBUN

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