RJESPM 15
18 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2015 Cabe, então, a pergunta: por que há, neste momento, tantos jornalistas e publicitários desempregados, não só neste nosso Brasil-em-crise, mas em todo o resto do planeta? Éclaroque, seeusoubessearesposta, não a estaria guardando para mim, e sim – no mínimo – dividindo-a com todos os nossos alunos e ex-alunos e, também, comos leitores desta revista. Mas creio que, com base no per- curso daminha experiência, possa dar uma colaboração concreta para que se encontrem um ou mais caminhos para encarar e vencer esse desafio. Já no século 16, o poeta JohnDonne dizia, pela primeira vez, que nenhum homemera uma ilha. Passadosmais de quatro séculos, sobretudo em função da explosão tecnológica das comuni- cações, se há algo a dizer sobre a con- temporaneidade, é que todos têma ver com todos e tudo tem a ver com tudo . Uma afirmação tão genérica pode, inicialmente, confundir. Mas, com alguma reflexão, pode também escla- recer e, espero, iluminar. Tomemos o exemplo do agora fami- geradoUber, que, emnosso país, tanto assombra os políticos e administrado- res públicos – além dos taxistas “ofi- cializados” pelas prefeituras. Os que só conseguem olhar para o passado veem o aplicativo como uma nova e ameaçadora concorrência aos motoristas e empresas de automóveis de aluguel. Mas essa conhecida ati- vidade, mais ou menos contemporâ- nea, representa não mais do que um degrau acima da antiquíssima parti- cipação socioeconômica das carroças de cavalos e dos seus cocheiros – que foi tornado possível, nos últimos dois séculos, pelas invenções dos motores e dos automóveis. Se analisarmos objetivamente, o sistema, ou processo, o Uber nasceu de um novo olhar – “fora da caixa”, como se costuma dizer – acerca das necessidades de transporte físico das pessoas nas grandes cidades. Pessoas que se encontram, fisicamente, em uma parte da cidade, desejam loco- mover-se para outra parte. Do ponto A para o ponto B, para o ponto C, D, E etc. Tudo issomultiplicado pela popu- lação em movimento numa concen- tração urbana de milhões de pessoas. Como solução eficiente para o pro- blema – quer no aspecto teórico ou científico –, o Uber é absolutamente impecável. Isso não significa que as pessoas ou empresas que atuem comercialmente pelonovo sistemanão possamou não devamser controladas ou administradas, direta ou indireta- mente, pela sociedade, e não devam pagar, por exemplo, taxas e impostos. Mas é inegável que se trata de uma solução adequada para um problema urbano – e que aumenta o mercado como umtodo e cria oportunidades de trabalho e emprego para todas as pes- soas. Até, pensando bem, o aplicativo Uber e o seu funcionamento podem ser vistos como uma atividade nova na área das comunicações... Do pensamento à palavra Retornando às referências sagradas do início: considerando a importân- cia simbólica do arcanjo como men- sageiro/mídia, numa época em que quase nada havia que pudesse ser con- siderado como tecnologia de transmis- são – e tambémrespeitando a preocu- pação do apóstolo coma comprovação inequívoca dos fatos –, emCrisóstomo, Sales e Sena identificamos as qualida- des comunicativas da eloquência, da precisão, da amplitude e da persuasão. Habilidades certamente importantes para quem conseguiu expressar o seu pensamento em palavras. Portanto, a primeira condição para comunicar bem é bem pensar. Sobre isso, costumo recomendar a leitura de um livro instigante de Derrick de Kerckchove, A Pele da Cultura (Edi- tora Annablume, 2009, esgotado. Há uma edição portuguesa, da Editora Relógio d’Água), que mostra como as palavras foram o principal instru- mento para disciplinar os processos neuronais e outros impulsos mentais para representar ideias – e não as suas consequentes representações visuais – gráficas ou não – e, muitomenos, os seus suportes em papel, eletricidade ou o que seja; portanto, livros, revis- tas, jornais, rádio, TV... No que se refere aomomento atual, acho que – durante algum tempo – é certo que ainda haverá jornalistas, publicitários e tambémtaxistas desem- pregados, como um dia houve carro- ceiros, cocheiros, ferreiros e layout men – que se tornaram extintos. Mas a necessidade social pela con- tribuição dos profissionais da comuni- cação nunca vai deixar de ser impor- tante, nem parar de crescer, assim como as oportunidades de trabalho remunerado que proporciona. ■ j. roberto whitaker penteado é diretor-presidente da ESPM. Sob qualquer ponto de vista, as comunicações constituem o segmento número 1 da economia mundial
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