RJESPM 15

20 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2015 por michelle levine , anna hiatt e michael shapiro Do começo ao fim Estudo analisa o comportamento do leitor que encara um texto longo sem reclamar. Uma das conclusões é que as pessoas ainda buscam fontes confiáveis no tempo em que a internet ainda engatinhava – e até um pouco depois, quando a febre do jornalismo de for- mato longo atingiu paroxismos –, uma dúvida importantepassoubasicamente despercebida: aquem, exatamente, esse jornalismo se dirige? E como garantir que o público o veja? São perguntas que o jornalismo só agora começa a responder. Há coisa de um ano, uma dúvida rondava três de nós, todos do site The Big Roundtable: o que fazer, consi- derando nosso parco acesso à cha- mada “web analytics”, para enten- der melhor o comportamento de lei- tura de fãs da grande reportagem (o chamado longform ), e o que leva esse leitor a compartilhar um texto longo. Queríamos saber se havia algumprin- cípio elementar que qualquer meio pudesse aplicar com facilidade e sem gastar muito com tecnologia. Ou seja, se o compartilhamento era regido por alguma verdade universal. Para tanto, fizemos umestudo (ban- cado peloTowCenter forDigital Jour- nalism, da Columbia University) no qual analisamos, ao longo de 21 dias, como 63 indivíduos que se identifica- vam como leitores do longform acha- vam, liam e compartilhavam repor- tagens longas. Eram 33 homens e 30 mulheres na faixa etária dos 20 aos 50 anos – embora poucomais da metade tivesse 32 ou menos. A maioria che- gou a nós por meio de duas platafor- mas, Narratively eMedium, que fize- ram um convite a potenciais interes- sados em respectivas newsletters; outros nos procuraram ao ler sobre a experiência na newsletter do The Big Roundtable. Uma das descobertas mais impres- sionantes foi que esse público chegava ao final de 94%dos textos longos que começava a ler. Para entender por que esse número é importante, é preciso voltar aos primórdios da internet, quando reinava a tese de que o lei- tor não estaria interessado em tex- tos que superassem a altura da tela do computador. Mas não. Comvelocidades dedown- load muito mais rápidas e a leitura no “modo reclinado” que o advento do tablet permitiu, cresceu o número de projetos de reportagens de fôlego – entre eles sites americanos de cura- doria, como o Longreads.come o Lon- gform.org, e produtores de conteúdo próprio, como Atavist, Narratively e TheBigRoundtable. Umnúmero cres- cente de organizações demídia, como BuzzFeed e Politico, passou a publicar textos mais longos. Já ummeio como o New York Times investiu recursos e capital humano para criar umproduto graficamente ambicioso como o espe- cial “Snow Fall”. O “Snow Fall” foi uma espécie de marco na narrativa digital interativa e, assim que saiu, quase todo jornal e revista com presença digital parecia querer fazer sua versão. Em meio ao

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