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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 21 furor causado pelo projeto multimí- dia, esqueceu-se de perguntar quem estava lendo a série. Se antigamente a única medida do sucesso do conteúdo de uma revista era o número de exemplares vendidos – o que pouco revelava sobre que tex- tos eram os mais lidos –, o meio digi- tal temuma série de “métricas” feitas para medir o “sucesso” de um texto em particular. O leitor não sabe o que quer Mas essa profusão de dados gera um retrato incompletodo comportamento do leitor – e lança pouquíssima luz sobreomodocomo interagecomocon- teúdo. Page views, entradas, tempo na página e taxas de rejeição só são úteis até certo ponto. No lugar de evidência empírica, comentáriosdeusuários, con- versas em redes sociais e feeback por e-mail deixam o jornalista entrever o público que consome seu texto (para o bem ou para o mal); mas, de modo geral, a imagem que o jornalismo tem do “leitor” ainda é vaga. Como bem disse Steve Jobs, “o consumidor não sabe o que quer”. O mesmo pode ser dito do leitor. Daí termos decidido parar de perguntar a ele o que quer e indagar, emvez disso, quemele é – e como age ao topar com um texto longo. Os participantes do estudo leram um total de 1.349matérias num inter- valo de três semanas e compartilha- ram 469 (35%) delas. A intuição nos diz que 35% é, nesse caso, um índice elevado – daí ser importante lembrar que esses voluntários gostam do for- mato longo e podem estar predispos- tos a achar, ler e compartilhar reporta- gens de fôlego commaior frequência do que o leitor médio que se depara comumamatéria longa numa revista. Os 469 textos em questão foram compartilhados em 549 momentos distintos, na maioria das vezes por e-mail (43%), Facebook (21%) e Twit- ter (15%). Em51%das vezes, os parti- cipantes compartilhavamo conteúdo com alguém que conheciam pesso- almente, em 33% das vezes com seu feed em redes sociais, em6% comum grupo específico de gente (membros de um grupo de jornalistas, digamos) e em 4% das vezes com alguém que não conheciam pessoalmente. No site The Big Roundtable, vínha- mos publicando praticamente todos os nossos 40 textos às quintas e sex- tas-feiras, pois achávamos que o fim de semana era a hora para a leitura de longas reportagens. Mas não era bemassim. Os participantes do estudo liam 50% do material longo durante a semana e 50% no fim de semana. E, embora o volume de leitura desse público no sábado e domingo costu- masse ser idêntico ao lido durante os cinco dias da semana, era muito menor a probabilidade de que com- partilhasse um texto lido no fim de CLARA BENFATTI

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