RJESPM 15

56 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2015 o que será da cidadania , da sociedade como um todo e da própria democracia se o jornalismo deixar de existir na forma como até hoje o conhecemos? A revolução digi- tal fragmenta o ambiente informativo e impulsiona a pul- verização das plataformas de comunicação e o enfraque- cimento do modelo de negócio tradicional das empresas jornalísticas. Esses fenômenos podem fazer comque o jor- nalismo profissional se torne algo restrito e confinado a nichos, diminuindo seu poder de mediação, de investiga- ção e de influência perante a sociedade e os poderes? E, se isso acontecer, as novas formas de produção e dissemina- ção de conteúdos serão capazes de suprir as missões tra- dicionalmente reservadas às grandes redações? Para debater essas questões reunimos emSão Paulo, na sede do Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC), Bernardo Sorj, professor titular aposentado da Universi- dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor do pro- jeto Plataforma Democrática; Sérgio Fausto, cientista polí- tico e diretor executivo do iFHC; Eugênio Bucci, jorna- lista, professor livre-docente da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e diretor de redação desta Revista de Jornalismo ESPM ; e Carlos Edu- ardo Lins da Silva, jornalista, livre-docente emcomunica- ção pela USP e editor desta revista. A mediação e edição ficou a cargo deste escriba e de Cynthia Rosenburg, jor- nalista e gerente de comunicação do Instituto Arapyaú. Do debate, um conceito emergiu com clareza: emmeio à inexorável transformação dos canais de obtenção e troca de informações, o jornalismo é ométodo, o código e a ética dos quais a sociedade não poderá prescindir. “É uma ativi- dade que ao longo dos séculos estruturou uma ética e uma técnica”, afirma Lins da Silva. “O jornalismo é o idioma e o método da instituição imprensa”, completa Bucci, ao subli- nhar que “a imprensa é o únicométodo, a única instituição, que permite, na intersecção da sociedade com o Estado, um campo de visão que nos ajude a fiscalizar o Estado”. Fausto recomenda cautela ao falarmos emmétodo, para não cairmos na “ânsia por controle e regulação”, mas faz coro com Sorj ao alertar para o surgimento de “outro tipo de hierarquia”. Tambémressalva que parece essencial pre- servar “alguma forma de separar o válido do não válido”, o joio do trigo, emmeio ao universo informativo cada vez mais saturado. Sorj vai além ao alertar que os meios digitais têm afe- tado “todos os laços da sociabilidade e da comunicação”, e que turbina tendências pré-revolução digital, como o indi- vidualismo e o questionamento de noções de hierarquia e autoridade, citando como exemplos de núcleos sociais impactados a escola e a família. Para Sorj, não há como negar que há uma nova mode- lagem da sociedade democrática. “A sociedade se demo- cratizou em vários aspectos, mas desestruturou os meios de comunicação, e isso está afetando a todos.” As indagaçõesmencionadasno iníciodeste texto sãoalgu- masdas questões a seremabordadasno trabalhodepesquisa que este autor irá desenvolver na Escola de Jornalismo da Universidade Columbia, de janeiro a maio de 2016, a con- vite da instituição, combolsa da Fundação Lemann e apoio da ESPM. A realização da mesa-redonda teve o objetivo de esboçar panos de fundo e checar os contornos do projeto. Os blocos a seguir, que resumem reflexões levantadas, devem ser lidos como se assiste a um videoclipe, em que os testemunhos “falam” por si e se sustentam de forma autônoma. As indagações parecem apontar que o apro- fundamento daquelas questões se impõe como umestudo oportuno e sobretudo necessário. por ricardo gandour e cynthia rosenburg Jornalismo e democracia: riscos em comum? Como a revolução digital e a crise do modelo de negócio tradicional estão afetando as redações e os laços de comunicação e sociabilidade

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