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60 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2015 oquepodeacontecer comumasocie- dade se o jornalismo deixar de existir? NosEstadosUnidos algumas pesquisas têm tocado nesse ponto. Um recente estudo do PewResearch Center mos- tra o que tem ocorrido nos legislati- vos estaduais americanos coma deca- dência da cobertura dos jornais. Coma crisedomodelodenegóciodas empre- sas jornalísticas, muitos repórteres são demitidos e um dos setores mais afe- tados foram os setoristas das assem­ bleias legislativas estaduais. Caiu dra- maticamente o número de repórteres que fazema coberturametódica e coti- dianadesses legislativos. Eeles também têmestudadoosefeitosdesse fenômeno para os cidadãos daqueles estados. Não considero o jornalismo uma ciência, mas uma atividade que ao longo dos séculos organizou e estruturou uma ética e uma técnica. Embora não formalmente codificadas, são universalmente aceitas. Oque está acontecendo comessa transformação que estamos vivendo [a proliferação de emissores de informação ] é que muita gente acha que está fazendo jorna- lismo, mas não está. Todas as opiniões têm o mesmo valor? É evidente que não. Em um determinado assunto, a opinião de quem sabe mais vale mais do que a de quem sabe menos. Essa é uma boa discussão, mas nãome preo- cupamuito. Nãome preocupa omonte de bobagens na internet o tempo todo. Oqueme preocupa são os veículos jor- nalísticos afrouxarem técnicas, códi- gos emétodos, por conta das dificulda- des econômicas que têm enfrentado. Embora eu prefira o papel, e existem até estudos empíricos que mostram que o papel é mais eficiente para o cérebro humano do que a leitura em tela, isso também não me preocupa muito. Como bem mostra essa cam- panha da ANJ (Associação Nacional dos Jornais), nunca os jornais foram tão lidos. Sinto que o problema maior não está nos que tentam substituir os jornais, mas no que os jornais estão fazendo em qualquer plataforma, no celular, no tablet ou no papel. O que me preocupa é a decadência da qua- lidade jornalística emqualquer plata- forma. Tem também a questão da lin- guagem, terrível e chocante, mas ainda pior é a falta de diversidade de fontes nas matérias, são os erros factuais, a falta de profundidade na análise, é a repetição do que se ouve na rua. Isso é que enfraquece a democracia. Há outro aspecto preocupante, quase vergonhoso, da nossa história recente. Durante os anos de prospe- ridade do setor, as empresas jornalís- ticas brasileiras não se dedicaram à estruturação dométodo, das técnicas e das codificações do jornalismo. Ao contrário dos mais importantes jor- nais americanos, que se preocuparam em construir e apoiar escolas, funda- ções e centros de pesquisa e investi- ramno conhecimento e no desenvol- vimento da qualidade da prática, os nossos grandes jornais, com raríssi- mas exceções, não fizeramissode uma forma mais qualificada. E é incrível como os americanos continuamnessa linha, talvezmaismodestamente, mas continuam investindo em pesquisa e autoaprimoramento. por carlos eduardo lins da silva Os veículos afrouxaram técnicas, métodos e códigos RICO LINS

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