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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 63 por sérgio fausto Capacidade permanente de investigação do poder a grande questão é: quais são as regras de validação da produção da informação?Qual é a “gramática” acei- tável? Em grandes pinceladas histó- ricas, primeiro surge um jornalismo como expressão de correntes de opi- nião, praticamente jornais-partido. Depois vem uma onda positivista, com a ideia da objetividade jornalís- tica. Mas é evidente que não dá para ficarmos ancorados na ideia da obje- tividade sob o ângulo de um positi- vismo – digamos – tolo. E o desloca- mento para o conceito de que todas as opiniões são válidas nos põe num terreno perigoso. A democracia pressupõe que este- jamos de acordo sobre as formas de discordar, e se não estamos mini- mamente de acordo sobre as regras para validar os fatos, retrocedemos à pré-linguagem! O desafio político- cultural nesse enorme processo de democratização do poder de mídia, propiciado pelo mundo digital, é separar o joio do trigo. É criar parâ- metros que permitam ter regras de validação. É outro tipo de hierarquia. Não valem mais os mesmos filtros, as mesmas hierarquias de antigamente, mas me parece absolutamente essen- cial preservarmos alguma forma de separar o válido do não válido. O jor- nalismo convencional, tal como nós o conhecemos, gerou uma metodo- logia de trabalho, uma ética. Nesse sentido, resistir a mudanças não é ser reacionário. Ao contrário, é pre- servar um legado positivo. Evidente- mente as formas de expressão desse legado agora serão outras. Mas não devemos abandonar essa espécie de âncora metodológica e moral que a sociedade, sobretudo a ocidental, produziu. Quando se fala em método, há que se tomar certo cuidado para não fazermos uma espécie de idealização do passado. Em tempos muito bem demarcados, nos Estados Unidos, a ânsia por controle e regulação deu no macartismo [período de intensa patrulha anticomunista, perseguição política e desrespeito aos direitos civis nos Estados Unidos, entre as décadas de 1940 e 50] . Investigação do poder É importante lembrar que em toda sociedadeháosmecanismos verticais e osmecanismoshorizontais de articula- ção. Nos verticais, o processo eleitoral, basicamente. Os horizontais incluem os tribunais de contas, o Ministério Público e tambéma imprensa. Alémdo jornalismo, temos que olhar também as universidades e os intelectuais. As universidades passarampor umduplo processo: por um lado uma hiperespe- cialização, e por outro uma espécie de RICO LINS

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