RJESPM 15

72 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2015 por julia m. klein A primeira rainha Biografia de Mary McGrory relata detalhes do reinado da mulher que abriu caminho no disputado – e machista – círculo de colunistas políticos nos Estados Unidos se mary mcgrory (1918-2004) foi de fato a “primeira rainha do jornalismo”, a profissão na qual ela reinou era bem diferente da nossa – e não apenas por- que estava em ascensão e dava lucro. Omachismo queMcGrory superou ou ignorou (em grande parte) era ao mesmo tempo mais agressivo e mais descarado. Pelos padrões atuais, a nata dos jornalistas de política tinha acesso muito fácil aos governantes e candidatos que cobria. E os jornalis- tas erammuitomais propensos a per- doar não só os lapsos morais dos polí- ticos como também os seus próprios. John Norris, o biógrafo [ autor de Mary McGrory: The First Queen of Journalism – A Primeira Rainha do Jornalismo , em tradução livre ] e admi- rador de McGrory, fala sobre como a colunista política do Washington Star misturava relações pessoais e profissionais: Sob qualquer ponto de vista de ob- jetividade jornalística, Mary deveria ter se recusado a cobrir a campanha [presidencial] de 1968. Ela tinha con- vencido Bobby Kennedy a entrar na disputa. Ela e Gene McCarthy eram amigos íntimos e costumavam beber juntos. Ela aliciou o homem que ela amava, Blair Clark, para ser o coor- denador da campanha de McCarthy [o então senador concorreu com Ken- nedy e o vice-presidente, HubertHum- phrey, à candidatura pelo Partido De- mocrata] . Esses não são conflitos de interesses pueris. Não é mesmo pouca coisa. E, co- mo Norris relata, a situação ética de McGrory só se deterioraria. De maneira convincente, ele especula que McCarthy, infeliz no casamento, teve um romance com a colunista católica fervorosa – talvez platônico, talvez não. “Os boatos do envolvimento de Mary e McCarthy corriam soltos na campanha”, escreve Norris. Ele cita DavidMixner, um líder estudantil que se tornaria um ativista gay, que teria feito a seguinte declaração: “Ela o ado- rava e ele a adorava também”. Nor- ris reproduz um poema que McCar- thy escreveu para ela, chamando-a de “rainha” e falando dela de um jeito enigmático como um “salgueiro ver- de-ouro, recurvado e belo entre espi- nhos e galhos tortos”. Durante toda a campanha presidencial,McGrory con- tinuou a fazer uma cobertura favorável à investida quixotesca de McCarthy. Na melhor das hipóteses, obje- tividade jornalística é um conceito ambíguo, e, em todo caso, os padrões são diferentes para uma colunista: McGrory, apesar de fazer um bom trabalho investigativo e de insistir que suas colunas fossem publicadas nos cadernos de notícias, era paga para expressar sua opinião. Sua tarefa não era ser “objetiva”, e sim tomar partido, ser honesta e equilibrada. Mesmo assim, o profundo envolvi- mento de McGrory com a campanha dos democratas à Presidência – tanto comouma agentepolíticaquantocomo alguémíntimadosdoiscandidatosanti- -Guerra do Vietnã [Bobby Kennedy e GeneMcCarthy] – não foi revelado ao

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx