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74 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2015 mesmoquandoopaísdeuumaguinada para a direita. McGrory foi muito passional em sua oposição à Guerra do Vietnã e em sua aversão a RichardNixon. Emuma coluna sobre a coletiva de imprensa concedida por Nixon após a derrota nas eleições para governador da Cali- fórnia, em 1962, McGrory escreveu: “Não houve perguntas, exceto aque- las feitas por Nixon sobre si mesmo. Ninguém ficou lá para ver. O ex-vice -presidente abriumão de tudo, possi- velmente até de sua reputação, nesse discurso épico”. Apesar disso, no fune- ral de Martin Luther King Jr, ela e Nixon acabaram dividindo um hiná- rio – um raro momento de harmonia e uma das muitas imagens marcantes da biografia. Enquanto foi presidente, Nixon colocou McGrory no topo de sua “lista negra”, e as doações de cari- dade dela, todas verdadeiras, caíram várias vezes na malha fina do fisco. A desforra veio quando McGrory tornou-se a primeira mulher a ven- cer o Pulitzer na categoria Comentá- rio – em 1975, por suas colunas sobre o escândalo de Watergate, que levou Nixon a renunciar em 1974. Muitos colegas achavam que aquele prêmio já estava atrasado. Norris traz trechos suficientes do trabalho deMcGrory para nos dar um gostinho – sarcásticos, contundentes, líricos e astutos. Eis o que ela escreveu sobreWalter F. Mondale, o candidato democrata na eleição presidencial de 1984: “A boa notícia para os democra- tas é que parece que, no fim das con- tas, Walter F. Mondale bate pra valer. Anotícia ruimé que ele costuma bater emsimesmo”. Ao falardadisputaentre Al Gore e George W. Bush em 2000, ela a chamou de “uma batalha entre o desagradável e o despreparado”. Portas abertas O autor também faz um belo trabalho ao lembrar os bons tempos de impro- viso e camaradagem das redações e dos executivos de campanhas domeio do século 20. Como colunista mulher, McGrory ajudava a abrir portas – e se aproveitava dessas portas abertas – em instituições como oNational Press Club e oGridironClub, que reúnemos magnatas e as figurasmais importantes dosmeios de comunicaçãodosEstados Unidos, organizações que ela atacou durante anos.MasMcGrory eramenos feminista do que a rainha sui generis da cobertura política. Quando ela via- java, sempre estava acompanhada de “carregadores” – colegas que levavam sua bagagem e sua máquina de escre- ver. “Nunca houve jornalista, antes ou depois dela, que tenha feito tantos futuros ganhadores do Pulitzer servi- remde carregadores”, escreveNorris. McGrory foi uma jovem, nas pala- vras deNorris, “atraente, esguia e cheia de vida”, o que sem dúvida facilitava as coisas.Mas comcerteza a qualidade do seu trabalho era o seu maior car- tão de visita. Seu status de informante ganhou força com suas festas lendá- rias, onde a bebida era sempremelhor que a comida e os figurões serviamos drinques, e os convidados dançavam, cantavam e recitavam poesia. “Mary desenvolveu uma habilidade quase sem igual de interagir com os candi- datos quando eles estavam longe dos olhos do público”, prossegue Norris. Na intimidade Além de ser anfitriã de grandes festas e de ser devota de SantaAna,McGrory construiu uma vida pessoal aomesmo tempomisteriosae triste, sugereNorris. Nascida e criada em Boston, McGrory foi a primeira da família a ir para a faculdade. Ela era louca pelo pai, funcionário do correio, de famí- lia irlandesa, mas tinha um relaciona- mento meio “reservado” com a mãe, de ascendência alemã. Mary nunca falava do lado alemão de sua família. McGrory teve um relacionamento rápido com John F. Kennedy quando ele era um deputado em começo de mandato. O romance não vingou (“ela não queria ser a outra”, conta Nor- ris), mas virou uma amizade impor-

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