RJESPM 15
REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 75 tante. As colunas de McGrory sobre as consequências do assassinato de Kennedy são consideradas alguns de seus melhores trabalhos. Norris revela que um dia o presi- dente Lyndon Johnson apareceu no apartamento de McGrory, com sua escolta do Serviço Secreto, e a pediu em casamento. “Mary, eu sou louco por você”, ele teria dito. Ela recusou o pedido de cara, mas garantiu a John- son que ele estava fazendo um “ótimo trabalho” como presidente. Overdadeiroamorde suavida, conta Norris, foi Blair Clark, um repórter charmoso que viraria executivo do canal CBS News, que ela conheceu cobrindo a campanha presidencial de 1956. Clark era casado na época e, apesar de gostar de Mary, parece ter ficado em cima do muro. “Mary foi dominada por sentimentos confusos, de atração e angústia”,mas não chegou a ter um caso, de acordo com Norris. Mesmo depois que Clark se divor- ciou, sua indecisão deixou McGrory tãomagoada que ela tentoucortar todo o contato com ele. A resposta dele foi uma carta dengosa e irritante, pedindo “outrachance, umaoutraoportunidade para uma vida que nós não vivemos, por caridade. Eu te amo, Mary, e você sabe. É só que eunão sirvo (paramuita coisa)”. Norris, bancando o psicólogo, especulaqueClarkofereceuaMcGrory “umsentimento de intimidade verda- deira, coma segurança da distância” e que não chegou a ameaçar a carreira dela. Clark acabou se casando outra vez, mas comuma socióloga polonesa. McGrory viveu um romance sério, já mais madura, com Bob Aberne- thy, repórter da rede americana NBC. Abernethy disse a Norris que ela era aomesmo tempo “maravilhosa de ver- dade” e “casca grossa de verdade”, e o relacionamento não durou. AomesmotempoqueMcGrorypode ter “sabotado levemente suas chan- ces de um amor que durasse”, ela se agarrou firmemente à vida que funcio- nava – sua vida profissional. McGrory adorava a atmosfera tensa e vibrante do Washington Star , em que ela tinha umpapel dos mais importantes. Ape- sar de vários desentendimentos coma chefia, ela recusou as ofertas para lar- gar o jornal (no início, James “Scotty” Reston tentou levá-la para o NewYork Times – mas disse que ela teria que trabalhar como telefonista no turno da manhã). Quando o Star fechou, ela acabou indo para o Washington Post , mas não ficou por muito tempo. Mesmo doente, ela trabalhou alémdos 80 anos, quando um acidente vascu- lar cerebral (AVC) comprometeu sua capacidade de se comunicar. Agora que os jornais dão seus últi- mos suspiros e vão sumindo, Mary McGrory é um tributo à sua era mais vibrante, e também um belo retrato de uma de suas personagens mais especiais. Em um livro cheio de his- tórias sedutoras, essa, do início do mandato do presidente Gerald Ford, chegamuito perto de retratar a essên- cia de McGrory: Na reunião diária com a imprensa, o porta-voz da Casa Branca falou alto e claro para os jornalistas: “Esta não é a hora para críticas partidárias”. Uma mão esguia se ergueu com firmeza do meio da multidão de repórteres homens que faziam suas perguntas. Era Mary: “Se esta não é a hora para críticas”, Mary perguntou, comvoz suave e de- cidida, “então quando seria?” ■ julia m. klein é repórter de cultura e crítica na Filadélfia e editora colaboradora da CJR . Uma versão deste artigo foi publicada na edição de setembro/outubro da CJR com o título “Resenha literária” McGrory foi anfitriã de festas lendárias, regadas a bebida de qualidade, onde os figurões da política dançavam e recitavam poesia
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx