RJESPM 15

REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 79 leão serva é jornalista, professor do curso de graduação em Jornalismo da ESPM e escritor, autor de A Desintegração dos Jornais (Reflexão, 2015) e coautor do guia anual Como Viver em São Paulo Sem Carro. O Campeão de Audiência – Uma Autobiografia De Walter Clark com Gabriel Priolli Summus, 2ª ed., 400 págs., 2015 em uma festa oficial da TV Glo- bo, em Brasília, diante de espo- sas de vários militares, tratou como puxa-saco um funcioná- rio da Globo que tinha a função de mediar o relacionamento da emissora com o regime. Passou dos limites aceitáveis para Mari- nho, que o demitiu em seguida. Executivo mais bem pago do Brasil, Clark levou 2 milhões de dólares no acordo de saída da emissora, uma fortuna incalcu- lável para a época, que, no en- tanto, o deixou descontente: só naquele ano ele deveria rece- ber 4 milhões de dólares entre salários e participações nos re- sultados. Muitos dizem que es- tava aí a razão da saída: seu contrato – feito em 1965, quan- do a TV não era nada – garan- tia gordas participações nos re- sultados, mas passou a resultar em ganhos demais depois que a Globo chegou à liderança abso- luta da mídia brasileira. Clark era um publicitário bem-sucedido da TV Rio em 1965, quando Roberto Marinho o convidou para dirigir com car- ta branca a Globo, que acabava de nascer. O executivo aceitou. Comandou cada detalhe da ati- vidade televisiva com criativida- de e rigor. Criou uma grade que até hoje norteia o ritmo da pro- gramação da emissora; em cada janela de horário, determinou um conteúdo lógico que previa um incremento de audiência do alvorecer até a noite, quando um conjunto de novelas emol- duraria o Jornal Nacional , cam- peão de audiência e diário ofi- cial de fato da nação. Na ponta comercial, criou um modelo de anúncios, uma tabe- la de preços, civilizou o merca- do publicitário, criou a Bonifica- ção por Volume, que se confun- diu com o caixa dois por mui- tos anos e atraiu como um as- pirador de pó mais da metade de toda a publicidade brasilei- ra por décadas a fio. Já que a lei não permitia que Marinho tivesse emissoras em todo o país, compôs o modelo de rela- ção com as afiliadas, distribuin- do dinheiro e poder a parceiros escolhidos pela Globo (em mui- tos lugares, criou as oligarquias políticas que hoje comandam o Congresso Nacional). Enfim, Clark fez a Globo, que gerou o império das Organiza- ções Globo. Ficou grande de- mais, foi demitido em 1977 e viveu os outros 20 anos frus- trado, sonhando com o dia em que o telefone iria tocar e Ma- rinho o chamaria de volta. Is- so não aconteceu. Sem ele, a Globo continuou crescendo, seu braço direito, José Bonifá- cio Sobrinho, o Boni, assumiu o trono e a história. No último dia de vida de Clark, o programa do Faustão mostrou uma reporta- gem sobre Boni que o apresen- tava como executivo responsá- vel pela criação da Globo, sem menção a Clark. Segundo Priol- li, nessa noite ele deu telefone- mas reclamando da injustiça, bebeu demais e morreu. Esse evento poderia até ser esquecido, mas a nova edição de sua autobiografia escrita com Priolli repõe os pingos nos “is”. Infelizmente, isso ocorre quando a Globo, 20 anos depois de Clark, parece viver um pro- cesso semelhante ao de Clark 20 anos depois da Globo. ■ EMPREENDEDORISMO Espanha aponta a saída A IMPRENSA ESPANHOLA dá sinais de ter encontrado uma saída para a crise da mídia in- ternacional. Exatamente por- que ali a depressão a partir de 2008 foi muito dramática, inúmeros veículos fecharam e os sobreviventes enxugaram as redações, empobrecendo o conteúdo. Desempregada, parte da eli- te jornalística do país se dedi- cou ao empreendedorismo e, com soluções diversas de finan- ciamento, fez surgir um boom de jornais digitais. Entre os sites se destaca o www.eldiario.es, um jornal de informação geral com detalhada cobertura nacional da Espanha. Como diz o nome, alternati- vaseconomicas.coop é voltado para notícias sobre empresas e negócios, criado por uma coo- perativa de jornalistas; www. elconfidencial.com tem posi- cionamento à direita e é ban- cado por um investidor – ven- de só publicidade; www.infoli- bre.es é um jornal independen- te que mantém parte do con- teúdo aberto e parte fechado para assinantes, que recebem também uma revista em pa- pel; www.publico.es dá conti- nuidade à trajetória do jornal de mesmo nome fundado em 2007 e fechado no auge da cri- se, em 2012. O projeto www.elespanol. com é o mais falado por ter ba- tido o recorde de captação em crowdfunding na campanha por seu lançamento. ■ REPRODUÇÃO

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