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revista de jornalismo ESPM | cJR 11 algoritmo tendencioso o facebook, comomuitos dosmeios de comunicação surgidos na revolução tecnológica da virada do século, era vistopormuitos como a redençãopara opúblico, que intérpretes equivocados da Escola de Frankfurt consideravam pura massa de manobra manipulada pelos veículos tradicionais. Agora (veja a seção “Números For- tes” na página 9) , que a maioria abso- luta das pessoas (pelos menos nos Estados Unidos, por enquanto) diz consumir notícias apenas por essa mídia social, começam a aparecer contra ela o mesmo tipo de queixas que antes eram feitas contra jornais e emissoras de rádio e TV. Grupos conservadores americanos iniciaram uma campanha de acusa- ções contra o Facebook dizendo que suas “principais histórias” no feed de notícias têmumviés favorável aos liberais e suprimemdeliberadamente pontos de vista e teses consideradas mais “de direita”. No contexto polarizado da cam- panha eleitoral deste ano, a discus- são começou a gerar problemas de tal monta para o Facebook que seu fun- dador e presidente, Mark Zucker- berg, resolveu se reunir com líde- res conservadores, inclusive assesso- res de Donald Trump, e prometeu a eles tomar providências para detec- tar eventuais desvios e corrigi-los. Isso, apesar de as “principais histó- rias” serem selecionadas por compu- tadores com base em algoritmos que medema intensidade do compartilha- mento de notícias demaneira estatis- ticamente objetiva. Como ninguém nunca está feliz quando seus pontos de vista são con- testados, até os algoritmos são denun- ciados como ideológicos. ■ Obama tem se dedicado à crítica de mídia Obama diz que “mídia balcanizada” estimula polarização carlos eduardo lins da silva é livre-docente, doutor e mestre em comunicação; foi diretor-adjunto da Folha e do Valor . Ombudsman na Casa Branca a relação entre barack obama e os jornalistas nunca foi simples. Apesar de sua campanha em 2008 ter rece- bido uma das mais simpáticas e acrí- ticas coberturas de imprensa já regis- trada na história eleitoral do país, no exercício do poder Obama teve inú- meros confrontos com a mídia. Ele a evitou o máximo possível, estabelecendo uma eficaz comuni- cação direta com eleitores e cida- dãos via mídias sociais. Alémdisso, controlou vazamentos e puniu comrigor funcionários públi- cos que passavam informações que não interessavam para repórteres e veículos de comunicação. Agora, ao final do segundo man- dato e com altos índices de aprova- ção pública, o presidente vemse dedi- cando à prática da crítica da mídia, muitas vezes com boa dose de opor- tunidade e razão. Ao comentar o trabalho da impren- sa nas eleições presidenciais deste ano, Obama atacou o que chamou de “mídia balcanizada” (e deu como exemplos dessa balcanização a Fox News pela direita e o NewYork Times pela esquerda) e creditou a ela a cres- cente polarização radicalizada que divide a sociedade americana. Ele pode estar certo, mas não poderia omitir que as mídias sociais também fazemparte desses Bálcãs. ■ Mark Zuckerberg, do Facebook, começa a receber queixas antes feitas a jornais, TVs e rádios Robert Galbraith/Reuters/Latinstock Jonathan Ernst/Reuters/Latinstock Facebook passa por algumas das provações dos jornais

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