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revista de jornalismo ESPM | cJR 21 tal simbólico é distribuído pela chefia na forma de espaço, disputado a tapa pelos jornalistas: o prestígio impresso na forma de visibilidade e expresso, mais concretamente depois, na forma de promoções e aumentos de salário. O repórter sabe que tipo de matéria lhe dará mais projeção profissional. Vaidade e ambição condicionam o livre-arbítrio de quemescolhe, apura e escreve as notícias. É esse acordo tácito entre patrões e empregados que conduz a cobertura para determinada direção, sem que isso tenha de ser claramente explici- tado. (Embora mecanismos de con- trole menos sutis também possam ocorrer. No Estadão , por exemplo, os jornalistas são alertados sobre “temas sensíveis à casa”, como aborto, bio- ética e religião. E o GAE, Grupo de Avaliação Editorial do jornal, é diri- gido por um consultor da Universi- dade de Navarra, abertamente vin- culada à prelazia católica de direita Opus Dei.) Chegamos, então, ao tema pro- posto para este artigo: a cobertura dada ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff teria sido equilibrada? Parece-me tão evidente que não, que o que se deveria discu- tir hoje são as razões para tamanho desequilíbrio. Mais do mesmo Não deixa de ser sintomático que, na origemda grave crise que acometeu o país, esteja um escândalo de corrup- ção na Petrobras – alvo de denúncia semelhante feita duas décadas atrás, durante o governo tucano, pelo pró- prio Paulo Francis, e que lhe custou um processo judicial de 100 milhões de dólares movido nos Estados Uni- dos pelo então presidente da compa- nhia, Joel Rennó (alémde uma depres- são que acompanharia o jornalista até o ataque cardíaco que o matou, em 4 de fevereiro de 1997). Cabeperguntar: aPetrobras dehoje, cuja propina de fornecedores finan- ciou campanhas eleitorais do PP, do PMDB e do PT, conforme revelado pela Operação Lava Jato, é mais cor- rupta que a de 20 anos atrás, sob a administração do PSDB? Não se sabe, porque a imprensa não se preocupou em responder. Mesmo depois de uma A presidente Dilma Rousseff comparece a evento de acendimento da tocha olímpica, realizado em 3 de março, no Planalto Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

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