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24 abril | maio | junho 2016 Quanto pode o quarto poder? Embora tenha influência sobre a opinião pública, e cometa – muitos – erros, a imprensa não é capaz de determinar a agenda, os rumos ou o humor da sociedade por vera guimarães martins pode ser muito cedo para dar a his- tória como escrita, mas me atrevo a dizer que o desenho político do Bra- sil de hoje foi traçado por dois acon- tecimentos capitais: as Jornadas de Junho de 2013 e a investigação da Operação Lava Jato, deflagrada em 2014. Emambos, a imprensa foi levada de roldão. Nos protestos de rua, os meios (mas não só eles) foram atropelados por fenômenos de massa que não conse- guiram antever e demoraram a com- preender (se é que os compreende- mos). É difícil acreditar que movi- mento de tal magnitude tenha sido gerado sem um período de incuba- ção – e é inquietante que essa incu- bação tenha ficado fora do radar de quem escreve a crônica do dia a dia. No segundomomento-chave, a reve- lação do esquema de corrupção da Petrobras, os meios ficaram longe do protagonismo registrado em outros escândalos, como o dos anões do Orçamento, o impeachment de Fer- nando Collor ou a revelação do men- salão. Na Lava Jato, quem deu a letra e pautou a cobertura foram o Minis- tério Público, a Polícia Federal e o juiz Sérgio Moro. Nunca antes tanta informação ficou concentrada em tão poucas mãos. Mera coadjuvante No papel de coadjuvante, a imprensa comeu na mão de fontes cevadas na conveniência do anonimato, relaxou controles, publicoumanchetes basea- das emcacos de informação, reprodu- ziu delações sem provas. Reinaram a estridência desmedida, a superficiali- dade, o desapreço pela exatidão, o des- preparo profissional, a opção pelo sen- sacionalismo em vez da sobriedade. Para o aprimoramento do jorna- lismo, porém, é necessário reconhe- cer que esses problemas estão longe de serem características destes tem- pos. São pragas antigas que, se ora arregimentam um exército de crí- ticos e ganham a berlinda, o fazem mais em consequência da polariza- ção nacional, inexistente no impea- chment de 1992, do que por viés polí- tico da imprensa. De novo no front – e certamente um agravante –, só a disrupção tecnoló- gica que corrói a sustentação econô- mica do impresso e é matriz do enxu- gamento das redações e do descarte dos profissionais mais experientes (e, portanto, mais caros). Mesmo a crise econômica atual, que solapou a governabilidade de Dilma Rous- valter campanato/agência brasil Impeachment e imprensa
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