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revista de jornalismo ESPM | cJR 25 seff, já era pano de fundo de outros escândalos. É mistificação jogar os erros de cobertura na conta do antipetismo dos meios de comunicação, ainda que esse sentimento tenha crescido, adubado pelo próprio petismo, com suas propostas de controle ou sua estratégia de ataque permanente à imprensa. A perspectiva sectária pode ser útil a propósitos políticos, mas é um desserviço à atividade jornalística, cujos defeitos crônicos acabamescamoteados e identificados como viés ideológico de ocasião. Essa visão não sobrevive a uma com- paração meticulosa com coberturas passadas nem a uma avaliação desa- paixonada do cenário, comseus ingre- dientes picantes que são matéria- -prima de sonho para qualquer pro- fissional: um esquema de corrupção de dimensões surpreendentes até para os padrões de um país sabidamente corrupto, uma investigação policial de enorme atração midiática, o envolvi- mento do partido há 12 anos no poder, confissões e delações fartas, prisões de figuras até então intocáveis. Vigilância das redes sociais Sugiro revisitar a cobertura feita pelos maiores jornais, mas substituir o elenco: emvez do triunviratoDilma/ Lula/PTnos papéis principais, entram FHC/Aécio/PSDB. Há quemacredite que o resultado seria substancialmente diferente. Eu não. Numa redação pro- fissional, que vive do mandato conce- dido pelo seu leitorado, o apelo da his- tória é superior a ideologias ou prefe- rências partidárias. É ingenuidade ou arrogância acre- ditar que a imprensa possa determi- nar a agenda, os rumos ou o humor de sociedades democráticas complexas comoabrasileira, aindamais agora, sob a vigilância estreita de redes sociais e canais de notícias alternativos. O cha- mado quarto poder, para usar o epíteto presunçoso que embasa muitos delí- rios de grandeza, só ganha ressonân- cia e legitimidade quando está conec- tado com a sociedade à qual se dirige. É, pois, uma influência de mão dupla. A imprensa não escreve sozinha a história de um país. Não é o caso de menosprezar seus erros nem sua influência sobre a opinião pública, mas tampouco é razoável atribuir-lhe mais peso do que ela realmente tem. ■ vera guimarães martins foi ombudsman da Folha de S.Paulo até o mês de abril de 2016. Está no jornal desde 1990. Em junho de 2013, manifestantes tomaram a cobertura do Congresso Nacional para protestar contra a impunidade e a PEC-37

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