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26 abril | maio | junho 2016 em recente entrevista à jornalista Mônica Bergamo, da Folha , a presi- dente Dilma Rousseff observou que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha declarava ter feito negociações com “os interessados” sobre uma lei para democratização econômica dos meios de comunicação. Dilma disse que o Brasil precisa restringir a con- centração excessiva damídia nasmãos de poucos grupos, pois isso prejudica a democracia. Perguntada sobre por que não falou desse assunto quando estava no governo, Dilma respondeu: “Falei duas vezes durante a campa- nha e uma vez depois. Diziam: manda uma lei. Eu vou mandar uma lei para perder, é? Porque uma das coisas que o senhor Eduardo Cunha dizia para quem quisesse ouvir é que ele tinha feito uma negociação e que essa pro- posta não passaria”. A jornalista quis saber com quem fora essa negocia- ção e Dilma respondeu: “Comos inte- ressados, querida”. Bergamo insistiu e perguntou quem eram esses inte- ressados e Dilma pisou no freio: “Ah, não, aí você pergunte para ele. Eu dei murro em ponta de algumas facas. Mas eu não tenho como dar murro em todas as facas”. Debate proibido É um trecho curto, mas suficiente para mostrar como o assunto é sen- sível, cercado de um medo sobrena- tural. Mesmo as autoridades conside- radas mais poderosas recuam encur- vadas e encerram a conversa. O fato é que há décadas está proibido o debate sobre a ação da mídia nos limites do funcionamento da República, uma vez que o autocontrole na prática inexiste. Não há interesse nem neutralidade dos meios de comunicação no trata- mento do assunto. Dos “poderes” do Brasil a mídia é o primeiro. Nas crises, ela influen- cia a opinião pública, dita a ação dos outros poderes. Essencial para a saúde da democracia, ela é a menos demo- De mal a pior Essenciais para a saúde da democracia, os meios de comunicação no Brasil prestaram um desserviço nos últimos meses ao protagonizar a divulgação seletiva de informações por mario vitor santos crática, a mais refratária, fechada em suas certezas. É muito menos trans- parente do que o Executivo, o Legis- lativo e atémesmo que o Judiciário. A própria mídia não se abre, o Judiciá­ rio é seu parceiro e no Legislativo a bancada dos parlamentares donos de canais e repetidoras de TV é uma das mais poderosas. A mídia está acima da nação. Não se discute a mídia na própria mídia. Um acordo tácito leva a que os veículos não se critiquem entre si. Não há contraditório, ou seja, não há competição sobre conteúdo. Mesmo Dilma (e Lula também) depois de todas as crises que a soterraram, depois de enfrentar a prisão, a tor- tura e o impeachment, recusa-se a responder com naturalidade uma pergunta sobre com quem Cunha (sempre ele) se associa para barrar a regulação econômica. A mídia é coautora da derrubada de um governo eleito com base num pretexto, e em decorrência entre- Impeachment e imprensa

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