RJESPM_17.indb

28 abril | maio | junho 2016 nas semanas anteriores ao encami- nhamento do pedido de impeachment pela Câmara dos Deputados, insta- lou-se nas redes sociais o discurso de que jornais estrangeiros denunciavam um golpe de Estado no Brasil. A his- tória confirmava a versão do governo deDilma Rousseff para os fatos. Não é possível dizer se foi plantada por uma agênciapublicitáriaouse surgiuespon- taneamente. Mas as redes funcionam bem para distribuir publicidade com cara denotícia. Informaçãonelas corre rápido e não há nenhum filtro de qua- lidade. Emplena crise, ambos os lados abusaramdelas.Diferentementedaver- são que emplacou, a imprensa estran- geira não viu golpe. Para construir a tese de forma con- vincente, os autores aproveitaram-se da confusão entre notícia e opinião. Notícia vem do trabalho de repórte- res que buscam relatar os fatos. Opi- nião é outra coisa. Há editoriais (a opinião do jornal), colunas (pessoas que o jornal contrata para manifestar sua opinião com frequência) e artigos avulsos. A divisão é logo reconhecida por leitores experientes do impresso, mas não é clara quando textos são dis- tribuídos por links avulsos para sites. Um dos artigos mais citados foi “A razão real que [sic] os inimigos de Dilma Rousseff querem seu impea- chment”, publicado pelo jornal britâ- nico The Guardian . Assinado pelo bra- sileiro David Miranda, o texto ques- tiona as razões da oposição, ataca a grande imprensa, mas não chega ao ponto de afirmar que havia um golpe em curso. Envolvimento dos deputados Miranda é casado com o jornalista GlennGreenwald, queconcedeuentre- vista à principal correspondente inter- nacional da CNN, Christiane Aman- pour. No vídeo, distribuído como “denúncia da CNN”, ele afirmou que “plutocratas veem uma chance de se livrar do PT por meios antidemocrá- ticos”. Citou o extenso envolvimento de deputados, a começar pelo presi- dente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, com escândalos de corrup- ção. Mas, mesmo quando questionado diretamente, evitou o termo “golpe”. A crise vista de fora Antes da votação de 17 de abril na Câmara, nas redes sociais só se falava que a imprensa internacional aderira à tese do golpe, mas não é o que dizem os editoriais Americano, Greenwald vive no Bra- sil e é um premiado e respeitado jor- nalista que se especializou na difícil relação entre direitos civis e tecnolo- gias digitais. Aopinião de umcasal, portanto, foi o carro-chefe da tese de que a imprensa estrangeira via golpe.Mesmo que nem eles próprios afirmassemisso. O Guar- dian , jornal que publicou o artigo de Miranda, se manifestou em editorial, publicado com o título “Uma Tragé- dia e um escândalo”. Nele, aponta os que considera responsáveis pela crise em que nos encontramos: “transfor- mações da economia global, a perso- nalidade da presidente, o PT ter abra- çado um sistema de financiamento partidário baseado em corrupção, o escândalo que estourou após as reve- lações, e uma relação disfuncional entre Executivo e Legislativo”. Não poupa o Congresso, não fala emgolpe. Outros órgãos importantes semani- festaram por editoriais. Odo Washington Post começa assim: “A presidente brasileira Dilma Rous- seff insiste em que o impeachment levantado contra ela é um ‘golpe con- enquanto isso no primeiro mundo... pedro doria

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx