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revista de jornalismo ESPM | cJR 31 sexta-feira, quando o achou na casa do presidente”. Pode não parecer um fato relevante, mas a sequência de reportagens expôs a fragilidade do esquema de segurança que prometia garantir a integridade física do ocupante do Palácio do Pla- nalto, incluindo o endereço no qual o político e sua família preferirammorar durante omandato presidencial. Eles optaram por permanecer na Dinda, casa situada no setor de mansões do Lago Norte e que pertencia ao clã Collor de Mello desde os anos 1960. Enquanto revirava o conteúdo esca- tológico do lixo presidencial, achei, entre outras joias da intimidade do poder, a escala de plantão dos agen- tes encarregados da segurança de Collor, com codinomes e senhas para entrar na casa da família, além de extrato bancário de uma conta que a primeira-dama, Rosane Collor, tinha na Caixa Econômica Federal, entre outras curiosidades. “Só não sei como conseguiramsepa- rar o repórter do lixo depois que esta- vam misturados”, reagiu o coronel Darke Nunes de Figueiredo, chefe da segurança do Palácio do Planalto, ementrevista rápida aos setoristas do palácio. A declaração desrespeitosa gerou notas de repúdio ao militar e de apoio ao meu trabalho divulgadas pela Federação Nacional dos Jorna- listas (Fenaj) e pelo Sindicato dos Jor- nalistas do Distrito Federal. Serviço à sociedade Ao longo daquela semana, passei de autora a personagem de matérias. “A inteligência do coronel grosseirão não lhepermitiu reconhecer que a repórter realizou umrelevante serviço público – o de apontar falhas na segurança do presidente”, me defendeu emtexto de duas colunas a revista Veja . “Segurança que, sob a responsabilidade do general Agenor (Homem de Carvalho, chefe do Gabinete Militar do Presidente) e com a colaboração do coronel Darke, era um verdadeiro lixo.” Darke foi demitido do cargo, mas continuoupróximo a FernandoCollor, mesmo após o processo de impeach- ment que o levou a renunciar à presi- dência, em2 de outubro de 1992. Pro- movido a general, foi chefe do Estado Maior do Exército e fundou em2011 a Associação Centro de Memória Pre- sidente Fernando Collor de Mello. Alémdo afastamento do então coro- nel Dark da função, a minha reporta- gem ajudou a reforçar a necessidade de mudanças na rotina de Collor, que já havia sofrido uma tentativa de aten- tado por um desempregado que bus- cara atingi-lo com uma faca. As solenidades de subida e descida da rampa do Planalto foramsuspensas e as corridas nos arredores da Dinda, espetáculo protagonizado pelo então presidente, que gostava de se deixar acompanhar por populares e jorna- listas – eu, inclusive –, deixaram o ambiente público para serem prati- cadas em espaços privados. Esses fatos são hoje parte de uma história que já vai longe e já eram de conhecimento público. Mas o que eu Lula Marques/Folhapress Ao fundo, a casa da Dinda (o resto é lixo) em foto publicada na Folha em fevereiro de 1992

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