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revista de jornalismo ESPM | cJR 39 dessa treva política, o frio cadáver do impeachment levantou-se e saiu outra vez andando! O 22 de fevereiro Na manhã seguinte, essa palavrinha, impeachment, estava na boca de todos. Até omais simplóriodos homens sabia que aquelememorável 22 de fevereiro provavelmente seria um desses dias portentosos que se elevampor sobre a história deumanação comoumamon- tanha emumdeserto – ummarco para o qual, de um lado, todos os caminhos convergem, e do qual, de outro, todos irradiam– ummarco que é o primeiro a atrair a vista, de tudo quanto é dire- ção e de tudo quanto é distância, e o quemais tempo a detém. Emvez de se abster de sua faina em reverente res- peito à memória de Washington, cos- tume honrado nessa data natalícia há seis décadas, oCongresso resolveu reu- nir-se – e para trabalhar! Antes das 9 damanhã, umamultidão já se postava diante doCapitólio e, emtodos os pon- tos cardeais, novos clãs continuavama se aglomerar. Quinze minutos depois de abertas as portas, os vastos saguões estavam lotados de homens e mulhe- res, e todo assento nas grandes gale- rias fora ocupado. Cena no Capitólio Era forte o interesse refletido em todo semblante – até no semblante dos membros da Casa, porquanto estes últimos conversavam animada- mente emgrupos ou aos pares, emvez de estar a fitar o infinito ou a escre- ver cartas pessoais, como de hábito. A multidão de desconhecidos estava à espera do impeachment. Não sabia o que era impeachment, exatamente, mas tinha uma vaga noção de que viria na forma de uma avalanche, ou de uma trovoada, ou quem sabe até de um teto desabando. De quando em quando, um membro erguia-se sole- nemente, e toda alma presente já se preparava para o pior. Vã ilusão – era só mais um discurso sobre a comezi- nha patente de um fogão de cozinha. O povo, com razão, estava indignado. Uma hora de irritante suspense trans- correra quando o público enfim des- cobriu que o homemque merecia sua atenção adentrara o recinto: Thad- deus Stevens. Em um instante, todo rosto voltou a se encher de interesse. Ovelho, emaciado, pôs-se de pé e diri- giu-se ao speaker , opresidente daCasa. O speaker instruiu a plateia a evitar qualquer manifestação de satisfação ou desacordo, sob pena de expulsão imediata, e a guardar rigoroso e res- peitoso silêncio. Quando terminou, o mais profundo silêncio reinou na Casa. Em seguida, o homem ao qual todas as atenções se voltavam leu as resoluções que a multidão ansiava por ouvir; e, ao chegar ao ponto no qual era decidido que “O presidente dos Estados Unidos será destituído por graves crimes e delitos”, as pro- digiosas palavras tinham algo de tão solene e fascinante que o povo pare- cia inclinado a pensar que o aguar- dado raio estava prestes a cair sobre o teto adornado! As luzes e sombras fortes, que aumentavam distâncias e criavamperspectivas ilusórias, a figura espectral do leitor, o intenso interesse que marcava o mar de rostos, o espe- tacular silêncio que invadia o lugar e a grandeza histórica da ocasião cons- piravam para tornar a cena uma das mais impressionantes e dramáticas já vistas no Capitólio. O debate final Começaram, então, os discursos, e o ressuscitado Lázaro do impeachment logo deu mostras de uma força e de um vigor que jamais possuíra em sua encarnação anterior. Amultidão conti- nuounoCapitólioatéquasemeia-noite. Terça-feira, 25 de fevereiro Durante todo o dia de ontem, o lugar ficou apinhado; o povo queria ouvir a importantíssima votação. O resultado não seria conhecido antes do cair da tarde, e todos sabiam; mas vieram logo cedodemanhã, trazendo consigoo far- nel e dispostos a esperar – o que fize- ram. Ouviramcontundentes discursos dos republicanos e protestos furibun- dos dos democratas – embora o tom destes últimos não fosse confiante. Os próprios democratas tinhamdito que o presidente agira de forma reprová- vel e que sentiam estar lutando por uma causa perdida. Os votos “sim”, em quase todos os casos, vieram em voz clara, masmuitos dos “nãos” eram inaudíveis da galeria dos repórteres. Oespírito parecia pendermajoritaria- mente para um lado. A resolução foi aprovada, o que foi umacontecimento momentoso; mas sábado seguia sendo o grande dia, ao fim e ao cabo. Era o grande dia a ser lembrado; suas ima- gens foram as que mais marcaram, e seus eventos foram os mais sensacio- nais, por seu ineditismo.

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