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46 abril | maio | junho 2016 noite, olhando para as estrelas verda- deiras, tomei a decisão de que a partir daquelemomento utilizaria parte domeu tempo, e do dinheiro ganho com a outra parte do tempo, a perseguir outro tipo de imagens. Imagens que complementas- sem o universo imaginário do meu tra- balho cotidiano com o mundo que sem- pre quis conhecer. No aeroporto, antes de embarcar no voo de volta, comprei por acaso a edição do mês da Travel & Leisure , uma revista de viagem. Nelahavia uma reportagemsobre a Namíbia (e estamos falando do último ano do século passado) numa época que ninguém, além do Amyr Klink, falava desse país na África 1 . E foi para lá que fui, seis meses depois (sem a Barbara Gancia), à procura das imagens perdidas. Imagem primordial Aprimeira fotoque considerocomo sendo minha, deverdade–semrastroou influên- cia de ninguém, apenas omeu olhar –, em que descobri o que poderia se tornarmeu universo é a das pernas no banco traseiro de umcarro, feita na primeirametade dos anos 1980 ( fig. 1 ). A imagem forma parte de um editorial de moda de lingerie em que, a pretexto de mostrar as novidades do mercado, eu relatava em oito pági- nas (essencialmente para mim mesmo) o que poderia ser o namoro de um casal em um carro parado no meio do mato. A visão era a do homem, que nunca apare- cia, a câmera se interessava apenas pela mulher. Com a mente dividida entre a nouvelle vague francesa e o filme Badlands ( Terra deNinguém , 1973), o primeiro diri- gidoporTerrenceMalick, deixei amodelo fazer o que quisesse e fui clicando atrás dela. Na época, essa verossimilhança em seu estadomais puro foi uma revolução 2 . A realidade do acaso controlado veiome visitar, alguns anos depois, trabalhando para a Harper’s Bazaar americana ( fig. 2 ). Fotografando um megaeditorial de coleções, fiz a foto que nunca imaginei que pudesse ser publicada. Por sorte o diretor de criação da revista era o len- dário Fabien Baron e ele enxergou, per- feitamente, a síntese do momento além do grafismo da composição 3 . Apartir daí, tentei sempre colocar a realidade em minhas imagens. E como fazer isso pos- sível emumuniverso tão dependente da Fig. 5 Mino Carta, Rev.Nacional#5 , 2014

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