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revista de jornalismo ESPM | cJR 51 ficção como a fotografia demoda?Muito simples, deixando que o acaso tivesse um papel importante no trabalho. Dei- xando espaço para que as pessoas foto- grafadas pudessemme surpreender, dei- xando uma parte delas (uma reação ines- perada, uma sugestão fora da hora que possa ser incorporada) em cada ima- gem capturada. Informações armazenadas Depois da viagem à Namíbia veio outra para Angola. E depois oQuênia, a Tanzâ- nia. ERuanda, EtiópiaeEritreia (alguémaí já esteve naEritreia?). Emdez anos foram mais de 15 viagens para a África. Além de outras em vários continentes ( fig. 3 ). Buscava naqueles lugares a oportunidade de encontrar universos intocados que eu pudesse registrar sem a mínima interfe- rência. Sempre retratando pessoas e ten- tando responder à pergunta básica que me faço toda vez que sou apresentado a alguém (esteja eu com uma câmera pen- durada nopescoço, ounão): quemé você? Em todas essas viagens eu juntava as informações armazenadas como tempo e me desafiava, me desafio ainda, a con- tar tudo o que sei sobre a pessoa retra- tada emuma imagem apenas. E utilizo a palavra “retrato” porque para mim essa é essência da fotografia. Talvez influen- ciado pelaminha fascinação pela pintura dos séculos 18 e 19, basicamente composta de retratos (e mesmo as paisagens dessa época eu posso dizer que são belos retra- tos), acredito que o princípio da fotogra- fia, da imagem, é a representação do que olhamos, um momento. Porém, o ame- ricano Richard Avedon, maestro dos maestros da fotografia, avisou que “no momento em que uma emoção ou um fato são transformados em uma foto ela não é mais um fato, mas uma opinião. Não existe a imprecisão em fotografia. Todas as fotos são precisas, nenhuma delas é verdadeira”. Para evitar ter de responder a esse conflitomilenar (o que é a verdade?), sigo o pensamento do pin- tor holandês Johannes Vermeer quando dizia que pintava o que via, não o que sabia da pessoa 4 . O retrato, no jornalismo, é considerado como uma ilustração, como se a visão do fotografado olhando para a câmera não conseguisse responder às seis pergun- Fig. 10 Rev.Nacional #6, 2015

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