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56 abril | maio | junho 2016 cessário para o projeto. E, comona prepa- ração de umDryMartini, sobrarampou- cos rastros, apenas a essência.Mais tarde, emumato tipograficamente totalitarista, resolvi que a revista inteira seria feita com um tipo só. Escolhi a Didot, criada pelo francês Firmin Didot em 1804 8 . E, ainda, traumatizado pelas legendas que umdos grandes jornaispaulistas insisteemadicio- nar ao rodapé de suas fotos (por exemplo: se a pessoa na fotografia está apontando para algum lugar, a legenda explica que a pessoa está apontando para algumlugar), decidi que a Rev.Nacional não teria legen- das. As imagens que teriamde se explicar por si mesmas, porque para o bomenten- dedor meia imagem basta. E assim, como entusiasmo e tenacidade de Alexander VonHumboldt e a sinceri- dade ocular de Edward Weston, come- cei a perseguir os temas que me interes- sam no Brasil enfrentando o desafio de contar o essencial em poucas páginas e de maneira estritamente visual. Porque Deus e o Diabo, na terra da fotografia, estão nos detalhes. Na série de retratos de policiais do Batalhão de Operações Poli- ciais Especiais do Rio de Janeiro, feitos para a Rev.Nacional #4, por exemplo, eu queria mostrar quem são os indivíduos que formamparte do destacamento. Ver esses personagens que sempre aparecem em grupos, se movimentando pelas rue- las ou amontoados emcaçambas de cami- nhonetes, demaneiramais próxima (um “quem é você?” a poucos metros de dis- tância). Montei um estúdio num canto do quartel e fui retratando os policiais. Alguns estavam com os rostos cobertos por balaclavas, outros não. Quando a série ficou pronta, a fotomais impressionante foi a de um dos oficiais paramentado de uma maneira que o transforma em uma espécie de Robocop. Apenas umdetalhe humano aparece: é o dedo indicador da mão direita. E ele está no gatilho de um fuzil de assalto FAL 7,62 mm ( fig. 11 ). Na Rev.Nacional , porém, as imagens estão sempre em boa companhia. Em média 30%do espaço é ocupado por tex- tos. Nomes do jornalismo como Mario Sergio Conti, Fernando Paiva, Ronaldo Bressane e FredMelo Paiva ou da litera- tura como Ronaldo Correia de Brito, já tiveram seus pensamentos impressos a bordo das páginas da revista. O detalhe é que as pautas de texto são encomendadas Fig. 15 Índios Zoe, Rev.Nacional #1, 2010

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