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58 abril | maio | junho 2016 1 Este texto é uma versão ligeiramente editada de uma palestra feita por Emily Bell na University of Cambridge no início de março intitulada “The End of the News as We Know It: How Facebook Swallowed Journalism”. O Facebook está engolindo o mundo As maiores empresas de plataformas e redes sociais têm hoje o imenso poder de monitorar quem publica o que para quem por emily bell algo muito dramático vem ocor- rendonopanoramadamídia, na esfera públicaena indústria jornalística, quase semqueninguémpercebae, definitiva- mente, sem o grau de análise e debate públicoqueoassuntomerece.Nosúlti- mos cincoanos, oecossistema jornalís- ticomudoudeformamaisradicaldoque em qualquer outro momento dos últi- mos 500, talvez. Vemos saltos imensos emtecnologias: realidadevirtual, vídeo ao vivo, bots de notícias cominteligên- cia artificial, mensagens instantâneas, aplicativos de chat. Vemos mudanças gigantescas no controle e na matemá- tica do setor. Isso tudo coloca o futuro desse ecossistema nasmãos de poucos – poucos que hoje controlamo destino de muitos. 1 Asmídias sociais não engoliramape- nasojornalismo.Engoliramtudo.Engo- liram campanhas políticas, sistemas bancários, histórias pessoais, a indús- tria do lazer, o varejo, até o governo e a segurança. O telefone que levamos no bolso é nosso portal para omundo. Creio que, sob muitos aspectos, isso abre oportunidadesmaravilhosas para a educação, a informação e a conexão. Mas traz, também, uma série de even- tuais riscos de caráter existencial. O jornalismo é uma pequena ativi- dade subsidiária do grande negócio das plataformas sociais – atividade, contudo, de fundamental interesse para o cidadão. Negócio inviável A internet e as redes sociais permitem que jornalistas façam um trabalho de impacto. Mas, ao mesmo tempo, aju- dama tornarapublicaçãodo jornalismo umnegócio economicamente inviável. Duas coisas importantes já ocorre- ram – e não demos suficiente atenção a nenhuma delas: A primeira é que veículos de comu- nicação perderamo controle da distri- buição do conteúdo. Mídias sociais e operadoras de pla- taformas conseguiram o que veículos de comunicação jamais teriamlogrado, ainda que quisessem. Hoje, a notícia é filtrada por meio de algoritmos e pla- taformas indecifráveis e imprevisíveis. O meio jornalístico está abraçando a tendência e quem já nasceu digital – como BuzzFeed, Vox e Fusion – cons- truiu sua presença na premissa de que está atuando dentro desse sistema, e não contra ele. A segunda é que o inevitável resul- tado disso é o crescente poder das mídias sociais. As maiores empresas de platafor- mas e redes sociais – Google, Apple, Facebook, Amazon – e até nomes do segundo escalão, comoTwitter, Snap- chat e operadoras de aplicativos de mensagens, adquiriramo extraordiná- rio poder de controlar quempublica o que para quem, e como essa publica- ção é monetizada. Aqui, há uma concentração de poder muito maior do que já houve no pas- sado. Uma vez que redes favorecem economiasdeescala, nossadetidacura- doria da pluralidade emmercados de mídia como o doReinoUnido evapora emuminstante. Já a dinâmica domer-

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