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68 abril | maio | junho 2016 son. A resposta certa para essa per- gunta é sim). Mas GerardRyle, diretor do ICIJ, diz que a turma que assina os cheques da entidade não assina as reportagens. Segundo Ryle, uma fronteira rígida entre a redação e o comercial garante que os apoiado- res apenas ficam sabendo que uma matéria importante vai ser lançada. Ele afirma que não aceita doações de fontes que queiram mandar na cobertura, e não há nenhuma evidên- cia que apoiadores como a Fundação Ford tentem sentar na cadeira do edi- tor. “Já recusei dinheiro, e não acre- dito em receber dinheiro para fazer matérias sobre um único assunto”, completa Ryle. O ICIJ construiu sua reputação com investigações internacionais sobre paraísos fiscais, mas o grupo não é especializado em dinheiro suspeito. Ele tambémcobriu os efeitos das polí- ticas do Banco Mundial sobre a vida das pessoas, especialmente as mais pobres, cobriu a mineração na África e o comércio de cadáveres. Se essas acusações são fruto de cons- piração, então os conspiradores capri- charamna armação. Atémesmo Jackie Chan, o astro de cinema, está namira. Omais provável é que um bando de gente endinheirada se juntou para apoiar o jornalismo de verdade. O próprio status do nome dessas pes- soas acaba incitando umquê de espe- culação paranoica. Algumas pessoas, por exemplo, estavam convencidas de que os Carnegie e os Rockefeller são os financiadores do ICIJ. Poucos nomes causam mais rebuliço entre os teóricos da conspiração. Mas essa linha não era 100% verdadeira. As fundações dessas famílias apoiam a organização-mãe do ICIJ, o Center for Public Integrity, mas Ryle garante que o ICIJ não recebe financiamento direto delas. OCenter for Public Inte- grity, ou CPI, é uma ONG americana apartidária e sem fins lucrativos cuja missão é “denunciar abusos de poder, corrupção e desvios de conduta por entes públicos ou privados, para fazê- -los operar comhonestidade, integri- dade e responsabilidade, colocando o interesse público emprimeiro lugar”. Até agora, os teóricos da conspira- ção não apresentarammuitas provas que apoiem suas especulações. “Acre- ditar em conspirações é muito pare- cido com apoiar um candidato. Não importa o que te digam, você sem- pre vai interpretar aquilo baseado no que você acredita”, explica Joseph Uscinsky, professor da Universidade de Miami e especialista em teóricos da conspiração. Jornalismo responsável Como Uscinsky observa, mesmo a cobertura do Washington Post sobre o caso Watergate enfrentou suposi- ções duvidosas. Se os Panama Papers tivessem reve- lado mais americanos, menos céti- cos teriam aparecido. É claro, poucos meios de notícias dos Estados Unidos queriam trabalhar com o ICIJ, por diversas razões, e ainda há centenas de especialistas em offshores cujos arquivos estão seguros. O que nós sabemos fez com que o WikiLeaks pedisse para o ICIJ publi- car todos os documentos ligados aos PanamaPapers. Aautoridade emvaza- mentos afirma que isso permite que fontes independentes verifiquemhis- tórias já publicadas e pesquisem infor- mações inéditas, para evitar possíveis favorecimentos. Ryle não tem planos de abrir seu acervo ao público. Ele diz que os documentos incluem pas- saportes e informações de pessoas que parecem usar as offshores legal- mente, e não quer facilitar o roubo de identidade. Porém, essa disputa entre os dois parece ser o resultado de uma alfine- tada que Ryle deu no WikiLeaks em uma entrevista para a Wired : “Não somos oWikiLeaks. Estamos tentando mostrar que o jornalismo pode ser feito de uma maneira responsável”, afirmou. Desde então, as críticas do WikiLeaks, queno começogiravamem torno dos Panama Papers, evoluíram para incluir teorias da conspiração e acusações de veiculação de propa- ganda financiada por países afetados. Existe então um caminho que nos afaste desse ruído e renda bons fru- tos? Ryle imagina um: “Tudo o que você pode fazer é fazer aquilo que considera omelhor trabalho possível, e então se acalmar e deixar o jorna- lismo cumprir a sua função”. ■ jack murtha é bolsista do Delacorte Center na CJR . Seu Twitter é@JackMurtha. Texto originalmente publicado no site www.cjr.org em 5 de abril de 2016. CHRISTOF STACHE/AFP/Getty Images

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