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revista de jornalismo ESPM | cJR 69 O caminho da colaboração A organização ICIJ realizou a façanha de coordenar o trabalho de mais de 100 redações em vários países para desvendar como elites escondem a riqueza em paraísos fiscais por david uberti no iníciode 2015 , uma fonte anônima começou a enviar dados criptografa- dos para o jornal alemão Süddeutsche Zeitung . Eram arquivos de um escri- tório panamenho de advocacia espe- cializado em companhias offshore . O acervo de documentos continuou crescendo, até chegar aos milhões. Embusca de ajuda para analisar todos os dados, o diário deMunique procu- rou umpequeno grupo de jornalismo investigativo emWashington, especia- lizado em análises globais. O ICIJ – sigla em inglês para Consórcio Inter- nacional de Jornalistas Investigativos – logo reuniu quase 400 jornalistas de 80 países para mergulhar no caso. Os frutos do trabalho do ICIJ vie- ram a público em 3 de abril de 2016, um domingo, quando a investiga- ção sobre o vazamento dos dados foi publicada emmassa, emmais de 100 veículos parceiros. Ocaso dos Panama Papers revelou – de maneira coletiva – como um escritório no Panamá aju- dou a elite mundial a esconder sua riqueza em paraísos fiscais, por meio das offshores . As notícias continua- rampipocando na segunda-feira, con- forme os governos começaram a res- ponder às revelações. Na Espanha, promotores lançaram uma investi- gação sobre lavagem de dinheiro; na Islândia, a população pediu a renún- cia do primeiro-ministro; a China parece estar censurando as menções aos envolvidos. Modelo de parceria Oprojeto é umtestemunho domodelo de parceria do ICIJ, que busca maxi- mizar o impacto por meio de colabo- ração mundial. Os meios de comuni- cação parceiros nomundo todo divul- garam os Panama Papers de acordo com o interesse de seu público, e a transmissão quase simultânea desse material deu à reportagem a relevân- cia para gerar umdebate global. Esses esforços em conjunto são muito mais resistentes a tentativas de controle de um governo ou de grandes empresas em determinado país. Redes globais de qualquer tipo – e especialmente as redes financei- ras – são inerentemente opacas à cobertura de uma única organização jornalística. O ICIJ resolveu essa dificuldade com sua própria rede global, uma resposta mais do que necessária para as reportagens que transcendem fronteiras e idiomas. O dinheiro é universal, então nada mais justo do que a tentativa do ICIJ de equiparar essa onipresença para aumentar e aprofundar o impacto dos Panama Papers. Provocar amaior repercussão possí- vel é a questãomais importante para as redações investigativas semfins lucra- tivos. Elas têmmais tempo para apu- rar matériasmais complexas, mas sua periodicidademais lenta atrapalha na hora de formar umpúblico cativo. Os parceirosmuitas vezes queremexclu- sividade, o que dificulta a distribui- ção das reportagens em larga escala, limitando seus benefícios. As redações sem fins lucrativos imaginaram vários modelos para

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