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revista de jornalismo ESPM | cJR 75 respondeu: “O Boston Globe foi leniente demais? O New York Times foi leniente demais? O Guardian foi leniente demais? Analisando hoje, nenhum de nós devia ter sido tão leniente”. Levaria anos para que outro veículo de comunicação retomasse para valer o escândalo de abuso sexual. Em2001, Kristen Lombardi, do Boston Phoe- nix , fez novas revelações com o texto “Cardinal sin”, uma longa reporta- gem que acusava o padre John J. Geoghan de ser um verdadeiro pre- dador sexual. Lombardi conseguiu entrevistas on the record com um punhado de vítimas. O Globe pode não ter sido o primeiro a cobrir o caso, mas, como contava comos recursos financeiros e a influ- ência de um jornal de cidade grande, deu o golpe decisivo. Na opinião de muitos, a contratação deMarty Baron em 2001 para substituir Matt Storin como editor foi crucial. Baron não só era judeu, como era de fora. Natural da Flórida, tinha trabalhado no Los Angeles Times e no New York Times e trocou o Miami Herald pelo Globe . Sob sua batuta, a equipe Spotlight do Globe iniciou uma investigação que duraria cinco meses. Tudo começou quando o time de repórteres ganhou acesso a documentos até então sob sigilo de Justiça sobre o sacerdote John Geoghan, que ao longo de 30 anos fora acusado de violentar mais de 130 crianças. Documentos confi- denciais revelavam que, diante das acusações, a Igreja Católica simples- mente transferia Geoghan de uma paróquia para outra, e que o cardeal Bernard Law agira para acobertar o caso. Pelo explosivo especial em duas partes publicado nos dias 6 e 7 de janeiro de 2002, e pela incessante cobertura subsequente, o jornal leva- ria o Pulitzer no ano seguinte. As revelações feitas pelo Globe aba- laram as estruturas daquela cultura. Um a um, os muros do silêncio vie- ram abaixo. Em janeiro, o milio- nário Jack Connors – empresário, filantropo e velho cupincha de Law – rompeu com o cardeal. Revoltado com as revelações feitas pelo jornal, retirou uma contribuição de US$ 300 milhões para uma campanha de arrecadação de fundos da arqui- diocese. “Não é com minha fé que tenho problemas, tenho problemas com os líderes da minha fé”, disse ao Washington Post . No dia 5 de março, o gerente-geral da WCVB, Paul LaCamera, levou ao ar um editorial afirmando que Law tinha perdido a autoridade moral e devia considerar a renúncia. Outras vozes importantes também se ergue- ram. No dia 13 de março, um edito- rial do Boston Herald aprovado pes- soalmente pelo dono e publisher do jornal, Pat Purcell, pedia a renúncia do cardeal. Por ironia, o padre John Geoghan celebrara o casamento da filha de Purcell. No dia 13 de dezembro de 2002, qua- tro dias depois de 58 sacerdotes da região de Boston terem levado pes- soalmente uma carta à residência do cardeal pedindo que deixasse o posto, Law anunciou a renúncia. Olhando hoje, o escândalo demons- tra a necessidade de um contínuo exame de consciência e vigilância pelas emissoras de TV de Boston – que, durante muito tempo, usaram antolhos enquanto cobriam a Igreja Católica. E, diante de uma Igreja cujo secretismo e falta de transparência eram notórios, havia um excesso de “matérias simpáticas” e de repórteres “beijando anel e fazendo genuflexão”. “Demoroupara que os ratos da Igreja ganhassem coragem”, disse David Boeri, da WBUR. ■ terry ann knopf é professora do departamento de jornalismo da Boston University há 13 anos. Foi crítica de TV do Miami Herald , correspondente do Boston Globe , crítica de TV do Patriot Ledger e colaboradora especial da Boston Magazine . Está escrevendo um livro, Best of Boston: The Golden Age of Local Television , a ser lançado pela University Press of New England. A Igreja Católica recebia tratamento de celebridade, sempre alvo de “matérias simpáticas” e de repórteres “beijando anel e fazendo genuflexão” Texto originalmente publicado no site www.cjr.org em 26 de fevereiro de 2016.
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