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76 abril | maio | junho 2016 para ler e para ver leão serva André Liohn capta a violência ao mostrar cenas como a do soldado prestes a morrer na Líbia, que está na capa de seu livro Fora muitas diferenças no trabalho e na vida em geral, os brasileiros Mauricio Lima e An- dré Liohn têm em comum o fa- to de serem dois dos mais im- portantes fotógrafos de guer- ra em atuação no mundo. Lima acaba de ser o primeiro brasilei- ro a ganhar um Pulitzer, no cen- tenário do mais importante prê- mio dos Estados Unidos para a imprensa e a literatura. Liohn, que acaba de lançar um livro so- bre a profissão, foi o primeiro latino-americano a ganhar, em 2012, a Medalha de Ouro Robert Capa, mais importante comen- da mundial focada em fotogra- fia de guerra, por sua cobertu- ra da Líbia. No capítulo diferenças, po- de-se dizer que Liohn é dionisía- Dois fotógrafos de guerra brasileiros entre os melhores do mundo livros co. Suas fotos trazem a impres- são do instante caótico em que foram feitas e frequentemen- te chocam pela crueza com que retratam a violência: tanto ao mostrar pessoas feridas que se arrastam pouco antes de mor- rer, em uma guerra civil, como o dedo de um jovem na bunda de uma moça que disputa o tor- neio “A mais devassa”, em baile funk em São Paulo. Suas fotos não parecem se preocupar com “um padrão geométrico” pres- crito por Cartier-Bresson: ne- las, diante da violência, parece faltar tempo para a geometria. Lima é apolíneo: suas fotos aliam a expressão do sofrimento das vítimas à sofisticação estéti- ca; seu fotograma parece captar o instante decisivo de Bresson, a “coalizão simultânea, coordena- ção orgânica dos elementos”, o perfeito casamento entre inten- sidade do conteúdo e a forma. O Pulitzer foi dado a Mauricio Lima e três outros fotógrafos do New York Times pela cobertura da chegada de milhares de fugi- tivos em busca de asilo na Euro- pa. Trata-se do mais importan- te fenômeno social, político e econômico em curso no planeta ao lado da catástrofe climática. Liohn escreveu o livro Corres- pondente de Guerra (Contexto) com Diogo Schelp, editor da Ve- ja , com vários conflitos no currí- culo. Os dois procuram respon- der à pergunta: em que momen- to os repórteres deixaram de ser mensageiros e se tornaram al- vo preferencial de combatentes. Na primeira parte do livro, Schelp faz uma história do de- senvolvimento do jornalismo de guerra, das origens no século 19 aos dias atuais. O autor conse- gue trazer informações novas a uma história bastante estuda- da. Além disso, sua breve his- tória tem um fio condutor que é essa relação entre o profissio- nal da cobertura e seu objeto, em um envolvimento que trans- forma testemunhas em alvo. Mauricio Lima tem um estilo marcadamente discreto, econô- mico em entrevistas. Mas suas fotos da cobertura premiada, da crise dos imigrantes na Europa, foram expostas recentemente e podem ser encontradas no acer- vo da galeria que o representa no Brasil, a DOC Galeria. ■ André Liohn
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