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revista de jornalismo ESPM | cJR 77 A cobertura de guerra pro- voca danos psicológicos nos jor- nalistas. Mas só recentemente a ocorrência da Síndrome de Estresse Pós-Traumático nes- ses profissionais passou a ser estudada. Depois do Front , de Giuliana Tenuta e Paula Saviolli, estuda a questão a partir de casos bra- sileiros e estrangeiros narrados às autoras. Além de sólida bi- bliografia, elas entrevistam o pioneiro no diagnóstico da sín- drome em jornalistas, Anthony Feinstein, radicado no Canadá. O estudo coloca o estres- se dos jornalistas no contexto brasileiro, mostra que o trauma não decorre exclusivamente de cobertura de guerras distantes, mas também de coberturas lo- cais, como tiroteios entre poli- ciais e traficantes ou manifesta- ções de rua, como as de 2013. ■ Traumas dos jornalistas que cobrem guerra Depois do Front Giuliana Tenuta e Paula Saviolli Ed. Reflexão, 2016 144 páginas O livro é uma provocação: a capa de War Is Beautiful é ins- pirada na diagramação do New York Times , o nome da obra fun- ciona como manchete e o subtí- tulo diz: guia visual para o gla- mur dos conflitos armados. O autor da crítica à estetiza- ção da fotografia de guerra no mais importante jornal do mun- do é David Shields, autor de ou- tros 18 livros de não ficção, com colaborações publicadas em di- versos veículos, incluindo o pró- A guerra é bela, nas páginas do New York Times War Is Beautiful David Shields PowerHouse Books, 2015 114 páginas prio NY Times . Seu alvo é espe- cificamente a cobertura da in- tervenção americana no Iraque, entre 2002 e 2009. Ao longo de 114 páginas, 67 fotografias publicadas em 64 edições do jornal são divididas em dez capítulos, com conjun- tos de imagens reunidas sob os títulos: Natureza; Playground; Pai; Deus; Pietà; Pintura; Filme; Beleza; Amor; Morte. As fotos são publicadas sem legenda: ao final do livro, há um índice em que cada uma é iden- tificada por dois verbetes: a le- genda publicada pelo Times e outra, em que o autor explica o contexto no qual a imagem foi produzida, com informações que aumentam o seu impacto. Um parágrafo inicial já na ca- pa do livro explica a indignação do autor com a estetização da guerra – a escolha de fotos bo- nitas para ilustrar o noticiário. Shields escreve: “Desde Home- ro até Matthew Brady ou Robert Capa, fotógrafos de guerra têm estetizado a guerra, mas nada como as centenas de fotos co- loridas que apareceram na pri- meira página do New York Ti- mes da invasão do Afeganistão em 2001 e do Iraque em 2003 até hoje”. Algumas fotografias pode- riam perfeitamente ilustrar anúncios de turismo. Outras não parecem tão frias, até ao contrário, podem ter chocado leitores: crianças emolduradas de sangue, uma rua onde as pessoas fogem de uma explosão (em que a linda mulher em pri- meiro plano acentua mais a per- cepção de violência do que a es- tética); corpos de pessoas mor- tas, carros incendiados, solda- dos em fogo cruzado, tanques e bazucas atirando etc. O paradoxo entre a beleza e a dramaticidade da fotografia é questão importante colocada de tempos em tempos por crí- ticos. É levantada também pe- lo fotógrafo André Liohn quan- do diz que retrata mais inten- samente a brutalidade das ce- nas de guerra do que outros fo- tógrafos. ■ A tensão transborda da imagem que retrata o trabalho de agentes de saúde na Líbia, em 2011 André Liohn reprodução reprodução

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