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80 abril | maio | junho 2016 credencial Maurício Tuffani Adeus à chapa branca Site recém-lançado critica as políticas públicas para ciência, meio ambiente, ensino superior e a cobertura desses temas no dia 31 de março deixei o cargo de editor da revista Scientific American Brasil e meu blog na Folha de S.Paulo e inaugurei o site jornalístico Direto da Ciência , pondo emprática umprojeto editorial com foco em ciência, meio ambiente e ensino superior. A ideia nunca foi fazer divulgação científica, o que já fazemmuitos outros veículos, mas abordar criticamente não só as políticaspúblicasnessas três áreas,mas tambémsua cobertura pela imprensa. O foco editorial desse projeto se tor- noumais preciso a partir de umestudo meude 2009 ( http://goo.gl/QGu7DK) , no qual sintetizei e reuni pela pri- meira vez minhas análises e conclu- sões sobre os rumos da imprensa nas áreas de ciência e do meio ambiente. Entre os principais aspectos consi- derados nessa análise estava a predo- minância da atitude “chapa branca” no âmbito dessa cobertura jornalís- tica, caracterizada especialmente pela ausência do contraditório em temas polêmicos. Para viabilizar diferentes possibi- lidades de captação de recursos para Direto da Ciência – que estava pres- tes a começar quando este artigo foi escrito –, foi definido umpúblico-alvo que em grande parte tem um poder aquisitivo razoável e tambémestabili- dade no emprego. São pessoas de nível superior envolvidas direta ou indire- tamente com as três áreas temáticas do blog: cerca de 380mil professores universitários de todo o país (dados do Inep para 2013), pesquisadores de instituições públicas e privadas, além de profissionais de órgãos técnicos, empresas e ONGs de meio ambiente, educação, saúde, energia, transpor- tes emuitas outras áreas. Commenor poder aquisitivo, também se incluem pós-graduandos, professores da edu- cação básica e alunos de graduação. Em abril de 2014, após um inter- valo de nove anos em meu trabalho na imprensa, nos quais atuei como assessor de comunicação na Univer- sidade Estadual Paulista (Unesp) e na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, eu havia retornado à Folha como colaborador e blogueiro, veí- culo no qual eu já havia trabalhado como repórter e editor de ciência. Nunca tive restrições a meu traba- lho no jornal, mas foi ficando evi- dente a necessidade de trabalhar fora da grande imprensa para poder atuar mais à vontade criticamente em rela- ção à cobertura jornalística. E tam- bém não haveria tempo para realizar meu projeto se continuasse na Scien- tific American Brasil , na qual comecei em abril de 2015. Em março, com o afastamento da presidente Dilma Rousseff se tor- nando uma possibilidade cada vez mais concreta, entendi que jamais teria uma oportunidade tão rica para explorar criticamente as implicações desse momento histórico na ciência, no meio ambiente e no ensino supe- rior. Era ummomento ímpar paramar- car a atuação independente definida pelo projeto editorial. A captação de recursos teria de ficar para depois. Direto da Ciência teve uma única reportagem, que foi seu primeiro post, seguida de alguns artigos nos dias seguintes. Para manter o blog ativo e sua audiência crescente, enquanto estão emcurso apurações e investiga- ções mais complexas, passaram a ser publicadas colunas diárias comnotas sobre temas variados, seguidas por um clipping com títulos e seus respecti- vos links de matérias de outros blogs e sites desde o dia anterior. As colunas diárias estão dandomais trabalho do que o esperado, atrasando a conclusão dessas apurações. Mas estão funcionando. A audiência che- gou a ultrapassar 3 mil visitantes por dia e, em 12 de junho, a página do blog no Facebook já contabilizava 46 mil seguidores. Sugestões e críticas importantes têm sido enviadas pelo Facebook, por e-mail, também anonimamente pelo formulário do Fale Conosco. Muitas delas resultaram em notas, inclusive as de destaque nas colunas diárias. Essa interatividade e as ferramentas demonitoramento ajudama conhecer os perfis e as expectativas dos leitores. De olho nos gráficos, um desafio tão grande quanto o de captar recursos é fazer crescer esse público, mas sem atuar como espelho subserviente à sua visão demundo. A sorte está lançada. ■ maurício tuffani foi editor-chefe da revista Scientific American Brasil , repórter e editor de Ciência na Folha . É editor do site Direto da Ciência.

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