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REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 7 o país da presidenta que falava de mulheres sapiens se transformou em 12 de maio no de um governo cujoMinistério é totalmente formado por homens brancos e cujo líder na Câmara é um dos autores de projeto de lei para dificultar que mulheres estupradas possam abortar. Tal mudança de rumos na política de gêneros no país não poderia ficar sempronta resposta feminina. E ela veio com grande intensidade, reforçada tragicamente pelo estupro coletivo de uma adolescente no Rio, recebido com quase indiferença imediata pelo governo interino, que levou dias para se posicionar a respeito. Para azar da recém-iniciada gestãoTemer, o vídeo comas imagens chocantes do estupro cole- tivo no Rio chegou às redes sociais nomesmo dia da inexplicável audiência que o novominis- tro da Educação, José Mendonça Filho, concedeu ao ator Alexandre Frota, famoso por seus filmes pornográficos e por ter relatado ementrevista de TV estupro que elemesmo cometera. Deflagrou-se um“Junho Feminista”, commanifestações quase diárias, uma delas com30mil participantes, e presençamaciça nas redes sociais, que transformaramo assunto da “cultura do estupro” numdos mais comentados no Twitter e no Facebook, inclusive internacionalmente. O governo Temer demorou para reagir, e quando o fez foi desastradamente. Nomeou para a Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres a deputada Fátima Pelaes, contrária ao direito de aborto, até mesmo em casos de estupro, na linha do líder do governo na Câmara, André Moura. Isso animou o movimento neofeminista brasileiro, que vinha num crescendo desde o ano passado, comampla disseminação nas mídias sociais e emveículos tradicionais, como a Folha de S.Paulo , que abriga o blog #AgoraÉqueSãoElas, que tem tido grande repercussão. O “Junho Feminista” representa o possível ápice no Brasil do “novo feminismo”, movi- mento iniciado no Canadá em 2011, que atualiza, com os instrumentos de comunicação con- temporâneos, altos graus de irreverência e humor e cruzamento com a complexa agenda de gêneros do século 21, a histórica luta das mulheres, iniciada há 120 anos com a reivindicação pelo seu direito de voto. ■ ROUBOU A CENA No dia 2 de junho, uma manifestação de mais de 30 mil mulheres fechou a Avenida Paulista, em São Paulo. A palavra de ordem era “Nem recatada, nem do lar, a mulherada está na rua para lutar” BRUNO MIRANDA/JORNALISTAS LIVRES
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