RJESPM 16
12 JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO 2016 DIRETO DE COLUMBIA por ricardo gandour 1 sobre o que conversavam três pós- graduandos chineses duranteo almoço no espaçoso restaurante do John Jay Hall, um dos edifícios-dormitório de Columbia, numamanhã chuvosa e fria de fevereiro? Naquele dia, o governo chinês havia anunciado tacitamente: “A mídia deve servir ao partido” – o núcleo que, isolada e monolitica- mente, detém, controla e mantém o poder naquele país. Os estudantes, com quem eu dividia a mesa, estavam perplexos. Eles vierampara cá se apri- morar em jornalismo, e optaram pelo mais importante centro mundial de produção, edição multiplataforma e liberdade de imprensa. Não que o per- manente quadro de restrições fosse, para eles, uma novidade. Liberdade de manifestação nunca foi um prato (em louça chinesa, claro) constante do cardápio do PartidoComunista.Mas a novidade imposta pelo presidente Xi Jinping (que nesse assunto tem con- seguido ser ainda mais rigoroso que seu antecessor, Hu Jintao) veio azedar ainda mais os ânimos e o almoço. “O que farei quando voltar?”, indagou um deles. O tema da conversa não pode- ria sermais indigesto para quemdeci- diubuscar especialização e aprofunda- mento na famosa esquina da avenida Broadway com a rua 116. Os três colegas chineses fazemparte de umcontingente cada vezmais volu- moso neste campus: os estrangeiros. Internacionalizar-se, oumelhor, glo- balizar-se é a palavra-chave da atual gestãoda universidade. Aescola de jor- nalismo é uma amostra representativa: neste ano, 40%do total de 370 alunos não nasceram nos Estados Unidos. É um recorde. Os passaportes interna- cionais provêmde 40 nações diferen- tes, seis da América Latina, incluindo oBrasil. (Do total de estudantes de jor- nalismo, 60% são mulheres). Isso representa ao mesmo tempo uma oportunidade e umdesafio. Opor- tunidadepara a instituição, cujamissão inclui espalhar pelos cantos domundo os valores acadêmicos, democráticos e liberais. Desafio tanto para o corpo docente quanto para o discente: tra- zer para a sala de aula aquelas abis- sais diferenças – como a que separa a vivência acadêmica dos pós-graduan- dos do dia a dia restrito dos alunos em seu país de origem. Estratégia de expansão A estratégia de globalização não passa pela abertura de “filiais” em diferen- tes países pelo mundo, mas sim pela implantação de global centers , escritó- rios de representação local que funcio- nemcomo uma espécie de embaixada “columbiana”. Atualmente sãooitopelo mundo, incluindoobrasileiro, comsede noRiode Janeiro. Emrecentediscurso paraos calouros daqui, na volta às aulas logo após a nevasca recorde que asso- lou a cidade em janeiro, o presidente da universidade, Lee Bollinger, expli- cou que vê três modelos de expansão internacional. Oprimeiro consiste em espalhar professores e alunos pelas diversas regiões do planeta, em para- lelo a parcerias com escolas locais. O segundo é abrir campi “satélites” pelo Columbia não quer abrir filiais em diferentes países, mas implantar escritórios de representação local que funcionem como uma espécie de embaixada Prato do dia: globalização 1 Nesta edição, excepcionalmente o titular da coluna, David Klatell, não pôde escrever seu artigo.
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx