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14 JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO 2016 mundo todo, alocando grupos distin- tos de professores e alunos em cada um deles. “Nós decidimos não fazer isso”, disse Bollinger ao jornal Colum- bia Spectator . “É um risco à liberdade acadêmica”, referindo-se exatamente às diferentes realidades. “Muitos paí- sesnão têmomesmonível de liberdade de expressão que nós temos.” Segundo Bollinger, a terceira via é ter um global center , e não umcampus comprofessores e funcionários locais – o que dá mais agilidade de decisão, caso seja necessária uma mudança de rumo. “Se o governo local come- çar a restringir a liberdade acadê- mica, podemos rapidamente fechar o centro e encerrar as atividades no país. Caso haja estrutura local ope- rando, essa decisão torna-se mais complicada. Temos que nos preocu- par com isso”, afirmou, justificando o terceiromodelo. Bollinger, renomado especialista na Emenda Número 1 da Constituição americana – que reza que nenhuma lei poderá ser criada para restringir a livre manifestação – é também mentor de um projeto para monitorar, pelo mundo todo, as restrições à liberdade de expressão impostas por decisões judiciais. O site do projeto mantém um radar global de tentativas de reprimir o livre dis- curso, que pode ser visto em http:// globalfreedomofexpression.colum- bia.edu . Tudo indica que, bem cumprida a missão, essas “embaixadas” irão aumentar ainda mais a diversidade de vozes e sotaques nesse quarteirão- sede do fazer jornalístico. Em abril, o global center do Rio realiza na Colum- bia um seminário sobre a situação da imprensa brasileira, especialmente no tocante às tentativas de restrições à liberdade, ameaças e violência con- tra jornalistas. O evento acontecerá no World Room, auditório do ter- ceiro andar do Pulitzer Hall, o prédio doado em 1912 por Joseph Pulitzer. É um edifício de pequeno porte, de subsolo, térreo e seis pavimentos, a transbordar jornalismo. Efervescência permanente O civilizado silêncio dos corredo- res ilude quem por aqui passa desa- visado. O transeunte não percebe a permanente efervescência que o edi- fício abriga. Separadas por poucos metros, salas e auditórios acolhem atividades de imensa diversidade, e que se estendem dos clássicos da erroneamente denominada “mídia tradicional” (apenas um repositório de fundamentos vitais para a profis- são, nada mais ou menos do que isso) à vanguarda digital de experimentos e startups, personificada pelo desco- lado salão de reuniões abertas que abriga o TowCenter e o Brown Insti- tute, dois núcleos de ponta em inova- ção jornalística. Naquele mesmo dia do indigesto almoço para os colegas chineses, o decano professor Ari Gold- man expunha o estudo de caso acadê- mico feito em 2008 e que deu origem ao recente filme Spotlight (a incrível história de persistência jornalística de um grupo de repórteres especiais do Boston Globe ), o júri do prêmio Pulit- zer (a mais importante láurea da pro- fissão) se reunia dois andares acima e a diretora de expansão do BuzzFeed (o badalado e polêmico aplicativo de notícias e entretenimento) ensinava a planejar uma entrevista de emprego. Com tamanha produção de conhe- cimento e tanto debate aprofundado, o contraste com a terra natal é estí- mulo ou desesperança? Num seminá- rio do centro de relações internacio- nais, conversei sobre isso com duas jornalistas, uma russa e outra turca – mais dois países emque ser jornalista não temsido fácil. “Dependemuito da sua crença pessoal”, disse uma delas. Crença e determinação, completaram os pós-graduandos chineses, termi- nado o almoço e já com o café sobre a mesa. Está aí, pensei, uma reflexão que deve iluminar a todos nós, nes- ses tempos de transformação e de fragmentação do universo das notí- cias. Independentemente da exis- tência – ou do tamanho – de pepinos em relação à liberdade de expressão. Vamos nessa. ■ ricardo gandour é diretor do Grupo Estado e está na Columbia Graduate School of Journalism como Visiting Scholar até junho de 2016. Independentemente da existência – ou do tamanho – de pepinos em relação à liberdade de expressão, vamos nessa

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